O Filme “Live Twice, Love Once”: Uma Jornada de Memórias e Reencontros
O cinema tem uma maneira única de explorar a condição humana, especialmente quando se trata de temas que envolvem as complexidades da mente, como o Alzheimer. “Live Twice, Love Once” (título original Vivir dos veces), dirigido pela cineasta espanhola Maria Ripoll, mergulha nesse universo com uma proposta sensível e comovente. Lançado em 2020, este drama, que também carrega uma leve dose de comédia, oferece uma reflexão profunda sobre as memórias, o envelhecimento e a busca pelo amor, mesmo em meio à perda gradual da identidade e das lembranças. Neste artigo, exploraremos os aspectos que fazem desse filme uma experiência inesquecível e relevante para todos.
Enredo: A Luta Contra o Esquecimento
Em “Live Twice, Love Once”, o protagonista é Emilio (interpretado por Oscar Martínez), um homem que, após ser diagnosticado com a doença de Alzheimer, enfrenta as dificuldades dessa condição em sua vida cotidiana. Ao receber o diagnóstico, Emilio vê-se diante de um futuro incerto e de uma luta constante contra a perda de memória. Acompanhado por sua filha, interpretada por Inma Cuesta, e outros membros de sua família, ele decide embarcar em uma jornada para tentar reviver algumas de suas memórias mais preciosas.
O ponto central da história é o desejo de Emilio de reencontrar sua primeira paixão, um amor que remonta à sua juventude. Esse amor não vivido, mas fortemente presente em sua memória, torna-se o catalisador de sua busca, enquanto ele tenta recuperar pedaços de sua história antes que a doença leve tudo. O filme aborda de forma delicada o impacto que a perda de memória tem sobre a identidade de uma pessoa, e como as lembranças podem ser fundamentais na construção de quem somos. Além disso, é interessante notar que a busca de Emilio pelo amor perdido é não apenas uma tentativa de reviver o passado, mas também uma forma de redescobrir a si mesmo enquanto luta contra o esquecimento.
Elenco e Personagens
O filme é conduzido pela performance magistral de Oscar Martínez, que interpreta Emilio com uma profundidade emocional que transmite tanto a fragilidade do personagem quanto sua resiliência. Martínez, um dos maiores atores espanhóis da sua geração, consegue captar as nuances de um homem envelhecido, mas que ainda carrega dentro de si a chama da juventude e os anseios por uma vida significativa.
Inma Cuesta, que interpreta a filha de Emilio, é outro destaque do elenco. Seu personagem lida com a difícil tarefa de cuidar do pai enquanto vê suas memórias desaparecerem, uma situação que, muitas vezes, se torna um fardo emocional. A relação entre pai e filha, marcada por amor e frustração, é um dos pontos mais tocantes do filme. Cuesta entrega uma atuação que é ao mesmo tempo comedida e emocionalmente carregada, equilibrando os momentos de leveza com a profundidade do drama familiar.
Outros membros do elenco, como Mafalda Carbonell, Nacho López, Isabel Requena, Aina Clotet e Antonio Valero, também desempenham papéis importantes que contribuem para o desenvolvimento da história, criando uma dinâmica familiar envolvente e autêntica. Atores como Valeria Schoneveld e Hugo Balaguer adicionam camadas à trama, trazendo uma diversidade de personagens que ajudam a construir a experiência emocional do filme.
Direção e Estilo
Maria Ripoll, conhecida por seu trabalho em filmes como Seguir Viviendo e La Vida Abierta, mostra mais uma vez sua habilidade em explorar temas profundos com sensibilidade e uma direção que não cai no sentimentalismo exagerado. A maneira como Ripoll escolhe equilibrar momentos de leveza, como as cenas de comédia, com os momentos mais dramáticos da jornada de Emilio, é o que torna o filme tão eficaz. Ao invés de retratar o Alzheimer como uma tragédia sem fim, ela nos oferece uma visão mais otimista, onde as memórias e o amor se tornam a chave para lidar com o inevitável.
Ripoll também faz uso de uma paleta de cores quentes e cenas agradáveis que ajudam a suavizar o tom pesado do tema. A direção de arte e a fotografia, cuidada por fotógrafos talentosos, são fundamentais para construir a atmosfera do filme, que transita entre o passado e o presente de forma poética e sensível.
Temas e Reflexões
“Live Twice, Love Once” aborda, acima de tudo, o tema da memória. O Alzheimer, com suas perdas irreversíveis, torna-se o pano de fundo para uma meditação sobre o que é realmente importante em nossa vida. À medida que Emilio tenta recuperar o amor perdido de sua juventude, o filme questiona o que realmente significa “viver” e “amar”. Seria o amor algo que podemos reviver ou reconquistar, ou ele é, de fato, um processo contínuo de crescimento e descoberta?
Além disso, o filme oferece uma reflexão sobre o papel da família no cuidado de um ente querido com Alzheimer. A jornada de Emilio é, em grande parte, facilitada pelo apoio constante de seus filhos, amigos e até mesmo de pessoas que cruzam seu caminho. O filme expõe com delicadeza a dificuldade e a beleza que existe no processo de cuidar de alguém que está perdendo a capacidade de se lembrar.
A doença também traz à tona a questão da identidade. Como se define alguém quando suas lembranças começam a se apagar? O filme sugere que a identidade não está apenas nas memórias passadas, mas também nas ações e no amor que ainda podemos dar aos outros, mesmo quando estamos à beira do esquecimento. A força de Emilio reside não apenas no desejo de reviver o passado, mas em sua determinação de continuar amando e se conectando com os outros, mesmo diante da perda.
Conclusão: A Memória como Ponto de Convergência
“Live Twice, Love Once” é uma obra cinematográfica que ultrapassa a simplicidade de um drama familiar sobre Alzheimer e se transforma em uma profunda meditação sobre as memórias, o envelhecimento e o amor. A interpretação de Oscar Martínez, a direção de Maria Ripoll e o enredo envolvente fazem desse filme uma experiência tocante e memorável. Ao focar na busca de Emilio por sua primeira paixão, o filme revela que, mesmo diante da perda, ainda há algo valioso a ser encontrado — o poder do amor, da família e da memória.
Este filme não só emociona, mas também convida o público a refletir sobre como lidamos com o envelhecimento e a perda de nossas capacidades cognitivas. Ele mostra que, mesmo quando as memórias desaparecem, o afeto e a busca por significado podem transcender o esquecimento. “Live Twice, Love Once” é uma celebração da vida, da memória e das conexões humanas, um lembrete de que o amor e as lembranças podem continuar vivos, mesmo quando o futuro parece incerto.
Ficha Técnica
- Título Original: Vivir dos veces
- Direção: Maria Ripoll
- Elenco: Oscar Martínez, Inma Cuesta, Mafalda Carbonell, Nacho López, Isabel Requena, Aina Clotet, Antonio Valero, María Zamora, Hugo Balaguer, Valeria Schoneveld
- País: Espanha
- Data de Lançamento: 7 de janeiro de 2020
- Ano de Lançamento: 2020
- Classificação: TV-MA
- Duração: 102 minutos
- Gêneros: Comédia, Drama, Filmes Internacionais
- Descrição: Quando Emilio (Oscar Martínez) é diagnosticado com Alzheimer, ele e sua família embarcam em uma busca para reuní-lo com sua paixão de infância.
Este filme é uma obra cinematográfica imperdível para aqueles que buscam uma reflexão profunda sobre a vida, a memória e a complexidade das relações humanas, tornando-se uma excelente adição ao gênero de dramas familiares e filmes que tratam de temas universais e atemporais.