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Terror e Metal: 1988

We Summon the Darkness: Um Olhar Profundo sobre o Terror e a Cultura dos Anos 80

A década de 1980 foi um período marcado por grandes transformações culturais, especialmente no que diz respeito à música e ao cinema. O rock pesado, com seu estilo ousado e energia elétrica, ganhou o mundo, conquistando fãs fervorosos e, ao mesmo tempo, gerando controvérsias e choques culturais. O filme We Summon the Darkness (2020), dirigido por Marc Meyers, mergulha nessa atmosfera, oferecendo uma história de terror e mistério no contexto de um show de heavy metal. A obra não só captura a essência dos anos 80, mas também explora os limites do medo, da violência e da moralidade, levando os espectadores a uma jornada de suspense e tensão.

Um Terror Impulsionado pela Música

We Summon the Darkness se passa em 1988, em meio à fervorosa cena do rock pesado. A história começa com três jovens mulheres — Alexis (interpretada por Alexandra Daddario), Val (Amy Forsyth) e Beverly (Maddie Hasson) — que viajam para um show de uma banda de heavy metal. O filme faz um excelente trabalho ao evocar a era dourada do rock, com um cenário que é uma verdadeira homenagem aos anos 80, desde as roupas extravagantes até os posters e a música de fundo.

O evento que deveria ser uma celebração do metal acaba se transformando em um pesadelo quando as garotas se envolvem em um assassinato sangrento, orquestrado por um culto satânico que usa o heavy metal como pano de fundo para suas práticas macabras. O contraste entre a diversão e a diversão típica de um concerto de rock e os assassinatos horríveis cria um ambiente de tensão constante, à medida que o enredo se desenvolve.

A decisão de usar o heavy metal como catalisador para a narrativa de terror não é apenas uma escolha estilística, mas também uma metáfora poderosa. Nos anos 80, a música pesada estava frequentemente associada a imagens de rebeldia e violência, o que gerou uma percepção de que ela era uma força subversiva, muitas vezes ligada ao ocultismo e a comportamentos desviantes. A obra aproveita essa associação para alimentar o clima de mistério e ameaça, colocando as personagens em um cenário de terror onde a música e os rituais satânicos se entrelaçam.

A Psicologia dos Personagens

A história se torna mais interessante à medida que os personagens se revelam. As três protagonistas — Alexis, Val e Beverly — começam como figuras que parecem simples e comuns, mas logo suas verdadeiras intenções e personalidades são reveladas. A construção dessas personagens, especialmente a de Alexis (interpretada por Alexandra Daddario), é uma das mais complexas do filme. Daddario entrega uma performance que equilibra charme e mistério, criando uma personagem que, à primeira vista, parece ser apenas mais uma garota que gosta de metal, mas com motivações e segredos que a tornam crucial para o desenrolar da trama.

O filme também explora a interação entre as meninas e os outros personagens, como os jovens rapazes que elas encontram no concerto e com quem acabam formando uma relação aparentemente amigável, mas que logo se revela cheia de tensões e segredos. A dualidade da natureza humana — o que é visto versus o que é oculto — é um dos principais temas de We Summon the Darkness, e isso reflete a construção de personagens que desafiam as expectativas do público.

Além disso, a escolha do elenco foi crucial para o sucesso do filme. A performance de Amy Forsyth, como Val, é um destaque, com a atriz criando uma personagem que, à primeira vista, parece ser a mais ingênua, mas que esconde uma força interna surpreendente. Maddie Hasson, por sua vez, interpreta Beverly com uma energia implacável, enquanto Keean Johnson, que interpreta o personagem Mark, traz uma dinâmica interessante com as mulheres e, por fim, serve como um ponto de virada crucial na história.

A Estética Visual e a Direção de Arte

A estética do filme é uma das suas maiores forças. Marc Meyers, com sua direção cuidadosa, consegue capturar a essência dos anos 80 de forma vívida, sem cair na armadilha de um excesso de nostalgia. A direção de arte é um acerto, com o filme oferecendo uma recriação fiel dos anos 80, desde as roupas até os acessórios, passando pela decoração do cenário, o que ajuda a criar uma atmosfera imersiva. Cada detalhe visual, como os posters de bandas de metal nas paredes, os objetos de época e a iluminação, é meticulosamente planejado para dar ao público a sensação de estar realmente nos anos 80, o que se torna parte essencial da experiência de assistir ao filme.

Além disso, a cinematografia de We Summon the Darkness usa uma paleta de cores sombrias, como tons de vermelho e azul, para criar uma sensação de opressão e tensão, enquanto a música — particularmente as faixas de heavy metal — contribui para o ritmo frenético e a construção de suspense. A música é uma protagonista silenciosa do filme, intensificando os momentos de ação e, ao mesmo tempo, oferecendo um comentário sobre a própria cultura do heavy metal.

O Elemento de Horror e Suspense

O que torna We Summon the Darkness particularmente eficaz como filme de terror é sua habilidade em equilibrar momentos de terror físico com um psicológico. A violência no filme é gráfica, mas o terror que ela gera vem da construção meticulosa de uma atmosfera tensa e da constante dúvida sobre quem são os vilões e quem são os heróis. A ameaça de um culto satânico se mistura com o medo de que o perigo pode estar mais perto do que imaginamos. Ao mesmo tempo, a constante interação entre as jovens mulheres e os rapazes cria uma sensação de paranoia, com o público sendo levado a questionar as verdadeiras intenções de cada um.

O filme também faz uma crítica social, questionando o que é real e o que é imaginado no contexto de uma sociedade que mistura a diversão com o medo. O uso de cultos satânicos e práticas macabras, combinado com a leveza do cenário do show de rock, serve como uma reflexão sobre como o medo pode ser facilmente manipulado e consumido pela cultura popular, transformando até mesmo o que era antes inofensivo — como a música — em algo aterrador.

A Recepção e o Legado do Filme

We Summon the Darkness pode não ter sido um grande sucesso comercial, mas encontrou seu público, especialmente entre os fãs de terror e de heavy metal. A fusão desses dois elementos cria uma experiência única, que ressoa particularmente com aqueles que cresceram na década de 1980, ou com os fãs de filmes de terror que apreciam um bom suspense misturado com elementos de cultura pop.

A recepção crítica ao filme foi mista. Muitos elogiaram a capacidade do filme de captar a atmosfera da época e de criar um suspense eficaz, enquanto outros apontaram falhas na construção da trama e nos diálogos. No entanto, é inegável que a obra se destaca como uma homenagem aos anos 80 e como um filme que sabe como brincar com os limites do gênero de terror, oferecendo uma história inesperada e cheia de reviravoltas.

Conclusão

We Summon the Darkness é uma viagem ao coração dos anos 80, misturando o medo, o heavy metal e os cultos satânicos em uma trama que desafia as expectativas do público. Com um elenco talentoso, uma direção de arte impecável e uma narrativa cheia de tensão e suspense, o filme oferece uma experiência única que agrada tanto aos fãs de terror quanto aos amantes da música pesada. Embora a obra possa não ser para todos, é uma excelente escolha para quem deseja uma história de terror que mistura nostalgia com uma boa dose de mistério e horror psicológico.

Em última análise, We Summon the Darkness não é apenas sobre os anos 80 ou sobre o metal; é uma reflexão sobre como as aparências podem enganar e como o medo é facilmente gerado e alimentado por nossa própria percepção da realidade.

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