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O Medo em It Comes at Night

Análise do Filme “It Comes at Night” (2017): Reflexões sobre Medo, Isolamento e a Natureza Humana

Introdução

Lançado em 2017, It Comes at Night é um filme de suspense psicológico e terror dirigido por Trey Edward Shults, que traz uma proposta única de explorar o medo e os dilemas humanos em um cenário pós-apocalíptico. Com uma narrativa instigante e um enredo que mistura tensão psicológica com elementos de horror, o filme nos apresenta uma reflexão profunda sobre a natureza humana, as escolhas morais e o impacto do isolamento em tempos de crise. Com a atuação de um elenco talentoso, que inclui Joel Edgerton, Christopher Abbott, Carmen Ejogo, Riley Keough, Kelvin Harrison Jr., David Pendleton e Griffin Robert Faulkner, o longa se destaca por sua atmosfera tensa e pela construção de personagens complexos.

Sinopse

A história se passa em um mundo devastado por uma ameaça desconhecida e mortal. Um pai superprotetor, interpretado por Joel Edgerton, vive com sua família em uma casa isolada, onde tenta proteger seus entes queridos de uma ameaça que persiste fora de seu refúgio. O equilíbrio de suas vidas é interrompido quando outra família aparece à porta, pedindo ajuda e abrigo. O encontro entre essas duas famílias desencadeia uma série de eventos que testarão os limites da confiança, da moralidade e da sobrevivência.

O Medo como Tema Central

Em It Comes at Night, o medo é uma força dominante que permeia toda a narrativa. Não apenas o medo de uma ameaça externa – representada por uma misteriosa doença ou vírus que assola o mundo –, mas também o medo interno, aquele que nasce dentro das relações familiares e da psique humana. O filme constrói uma atmosfera opressiva, onde o perigo nunca é totalmente revelado, mas constantemente sugerido. A iminência de uma ameaça invisível mantém os personagens em constante estado de alerta, criando uma tensão palpável em cada cena.

A escolha de ambientar a história em uma casa isolada no meio de uma floresta é uma estratégia eficaz para amplificar a sensação de vulnerabilidade. A casa, longe da civilização, se torna um microcosmo de segurança e aprisionamento ao mesmo tempo. O pai da família, interpretado por Joel Edgerton, é um personagem que reflete esse medo existencial. Sua superproteção em relação à sua esposa e filho é uma tentativa desesperada de manter o controle em um mundo onde nada mais parece seguro.

Isolamento e o Impacto nas Relações Humanas

Um dos principais aspectos explorados pelo filme é o isolamento e como ele afeta as relações humanas. A convivência constante em um espaço fechado, sem a possibilidade de interação com o mundo exterior, gera um ambiente psicológico instável. O pai, tentando garantir a segurança de sua família, se torna cada vez mais desconfiado e paranoico em relação à chegada da outra família. Essa tensão é agravada pela dúvida constante sobre as verdadeiras intenções dos visitantes e a insegurança quanto ao futuro da humanidade.

As relações entre os personagens são marcadas por desconfiança, medo e necessidade de adaptação a uma nova realidade. O filme coloca em questão a ética e a moralidade, levando o público a refletir sobre até onde iriam em nome da proteção dos seus entes queridos. A dificuldade de aceitar a vulnerabilidade e as escolhas que surgem diante da ameaça constante são o que define o comportamento de cada personagem.

O Encontro entre as Famílias: O Conflito de Confiança

O momento em que a segunda família aparece na vida da família principal é um ponto de virada na trama. Ao longo do filme, o público é levado a questionar a verdadeira natureza dos visitantes e suas motivações. O fato de o filme não revelar completamente a ameaça externa, deixando espaço para a imaginação, reforça o conceito de que o maior perigo não vem apenas de fora, mas de dentro das pessoas, de suas reações ao medo e à incerteza.

Quando as duas famílias começam a interagir, o filme faz uma análise detalhada das dinâmicas sociais em tempos de crise. A necessidade de colaboração e sobrevivência contra uma ameaça comum se choca com a desconfiança e o medo do que o outro pode representar. As escolhas feitas pelos personagens, muitas vezes motivadas por medo e incerteza, revelam a fragilidade das relações humanas quando pressionadas pelos limites do medo.

A Atmosfera e a Construção da Tensão

A atmosfera de It Comes at Night é cuidadosamente construída para manter o público em suspense. A utilização da fotografia, que favorece a luz escassa e os tons escuros, contribui para o clima de incerteza e perigo iminente. A direção de Trey Edward Shults opta por não mostrar tudo de uma vez, criando uma sensação de desconforto ao deixar o desconhecido como uma presença constante.

A música e os efeitos sonoros também desempenham um papel fundamental na criação dessa tensão. A trilha sonora minimalista e os sons sutis que permeiam o filme fazem com que o público fique em constante estado de alerta, nunca sabendo quando o perigo real se manifestará.

Personagens e Atuação

O elenco de It Comes at Night é um dos seus maiores trunfos. Joel Edgerton, que interpreta o pai, oferece uma performance intensa e convincente, conseguindo transmitir a vulnerabilidade e a força de seu personagem ao longo do filme. Sua atuação é equilibrada, pois o personagem precisa equilibrar o amor e a proteção com a necessidade de tomar decisões difíceis em momentos de crise.

Christopher Abbott, que interpreta o homem da outra família, também se destaca, pois o seu personagem enfrenta dilemas semelhantes ao do protagonista. A interação entre os dois personagens é carregada de tensão, com cada um tentando entender as intenções do outro enquanto navega pelas incertezas do mundo ao redor.

Carmen Ejogo e Riley Keough, que interpretam as esposas dos protagonistas, trazem complexidade e humanidade aos seus papéis. Elas são fundamentais para o desenvolvimento da trama, pois, embora também estejam em situações de grande tensão, representam os sentimentos de fragilidade e amor que motivam as ações de seus maridos.

O Final e o Impacto Psicológico

O final de It Comes at Night é um dos aspectos mais discutidos do filme. Ao contrário dos filmes de terror convencionais, que muitas vezes buscam um clímax explosivo e uma resolução clara, este longa opta por deixar o público com um sentimento de inquietação. O final é aberto a interpretações, deixando para o espectador a tarefa de refletir sobre o destino dos personagens e as lições que o filme oferece sobre o medo, o isolamento e a natureza humana.

O filme nos confronta com a realidade de que o maior perigo muitas vezes está dentro de nós mesmos – no medo de perder o controle, nas escolhas morais que fazemos e nas consequências dessas escolhas. Ele também levanta questões sobre a natureza da confiança e da sobrevivência em tempos de crise, mostrando como a necessidade de proteger os entes queridos pode, paradoxalmente, nos levar a tomar decisões que destroem aquilo que tentamos preservar.

Conclusão

It Comes at Night é um filme que desafia as convenções do gênero de terror ao focar mais nas emoções humanas e no impacto psicológico do medo do que em monstros ou cenas sangrentas. Trey Edward Shults consegue criar uma obra cinematográfica envolvente, onde o terror vem das escolhas e dilemas morais dos personagens, em um ambiente onde o maior inimigo é a incerteza. Ao longo de 92 minutos, o filme prende a atenção do público, levando-o a refletir sobre a complexidade da natureza humana e os limites da sobrevivência em um mundo que já não oferece respostas fáceis.

Em suma, It Comes at Night é uma obra cinematográfica que merece ser apreciada não apenas pelos fãs do gênero de terror, mas por aqueles que buscam uma reflexão profunda sobre os aspectos mais sombrios da condição humana.

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