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O Legado de Steve Jobs

Steve Jobs: Uma Análise Profunda de um Gênio Visionário

A biografia de Steve Jobs, uma das figuras mais emblemáticas e controversas da história recente da tecnologia, sempre esteve cercada de mistério, inovação e um estilo de liderança que balançava entre a genialidade e a rigidez. O filme Steve Jobs, dirigido por Danny Boyle e lançado em 2015, oferece uma visão aprofundada sobre os momentos mais decisivos da carreira do fundador da Apple, utilizando três eventos cruciais em sua trajetória para revelar a complexidade de seu caráter e sua busca incessante pela perfeição.

A Escolha pela Estrutura do Filme

O filme opta por uma abordagem não convencional para contar a história de Steve Jobs. Ao invés de seguir a linha do tempo tradicional da vida do empreendedor, a narrativa é dividida em três momentos distintos de sua carreira, em diferentes períodos de lançamento de produtos icônicos da Apple: o Macintosh, o NeXT e o iMac. Essa estrutura não-linear permite que o filme explore as tensões e conflitos internos de Jobs, ao mesmo tempo em que apresenta as grandes vitórias e tragédias que o definiram como o homem que revolucionou a tecnologia.

A escolha de se concentrar em três pontos específicos e cruciais da carreira de Jobs permite ao diretor Danny Boyle e ao roteirista Aaron Sorkin uma imersão profunda nos aspectos psicológicos e emocionais do personagem. Cada uma das cenas é cuidadosamente construída para revelar aspectos da personalidade de Jobs, incluindo suas interações com colegas de trabalho, sua relação com sua filha Lisa, e sua constante busca por sucesso e inovação.

A Performance de Michael Fassbender

Michael Fassbender, que interpreta Steve Jobs no filme, oferece uma performance impressionante e multifacetada que vai muito além de um simples retrato físico do visionário. Fassbender capta a essência de Jobs de forma brilhante, representando a tensão interna do personagem, sua confiança inabalável, bem como suas falhas e vulnerabilidades. A habilidade de Fassbender em transmitir as camadas de complexidade de Jobs é essencial para dar vida a um personagem que não é apenas um gênio, mas também um ser humano com falhas, inseguranças e conflitos.

Uma das características mais marcantes da atuação de Fassbender é sua capacidade de expressar a energia frenética de Jobs, uma pessoa que vive no limite de sua própria criatividade e ego. Esse retrato de Jobs, que muitas vezes é retratado como difícil, exigente e até mesmo desumano com seus colegas, é equilibrado por momentos de fragilidade emocional, particularmente em relação à sua filha, Lisa, e aos erros cometidos em sua vida pessoal.

O Enredo e os Conflitos Centrais

O enredo do filme gira em torno de três grandes apresentações de Jobs, cada uma em um período específico de sua carreira. O primeiro momento é a apresentação do Macintosh em 1984, que estabelece a tensão entre Jobs e seu chefe, John Sculley, interpretado por Jeff Daniels. Este evento destaca as dificuldades de Jobs em sua relação com os outros, sua impaciência com as falhas dos produtos e seu desejo de controlar todos os aspectos da criação da Apple.

O segundo grande momento ocorre em 1988, quando Jobs, depois de ser demitido da Apple, apresenta o NeXT, uma nova empresa que ele fundaria após sua saída. Esse segmento revela ainda mais a solidão de Jobs, suas frustrações pessoais e sua busca por um propósito maior do que simplesmente criar produtos que vendem bem. A cena é pontuada por sua relação com sua filha Lisa, que, mesmo que distante, parece ser a única coisa que Jobs não pode controlar.

O terceiro e último momento ocorre em 1998, com o lançamento do iMac, que marcaria o retorno de Jobs à Apple. Essa parte do filme é repleta de reflexão e um certo senso de redenção para o personagem, à medida que ele finalmente reconhece algumas das falhas em suas escolhas pessoais e profissionais. A interação com seus colaboradores e com sua filha se torna mais humana, menos dominadora, e Steve Jobs começa a compreender que o sucesso não vem apenas de inovação, mas também de relacionamentos e do equilíbrio emocional.

A Relação de Jobs com os Outros

Um dos temas centrais do filme é a relação de Jobs com as pessoas ao seu redor, particularmente com seus colaboradores, amigos e família. Ele é retratado como alguém que pode ser brilhante, mas muitas vezes insensível, egoísta e até cruel em seu trato com os outros. Isso é especialmente evidente em sua interação com figuras como Steve Wozniak (interpretado por Seth Rogen), seu antigo parceiro na criação da Apple, e sua ex-namorada Chrisann Brennan (Katherine Waterston), com quem tem uma filha, Lisa.

Jobs é mostrado como alguém que valoriza a perfeição e a inovação acima de tudo, muitas vezes à custa das relações pessoais. Seu ego e sua busca constante por resultados extraordinários parecem ser a principal força que o move, mas, ao longo do filme, também vemos sua incapacidade de lidar com as consequências de suas ações.

A relação com Lisa, sua filha, é um dos pontos mais emocionantes do filme. Ao longo da narrativa, Jobs parece relutar em reconhecer sua paternidade, o que adiciona uma camada de complexidade à sua personalidade. No entanto, à medida que o filme avança, vemos um Jobs mais introspectivo e vulnerável, tentando se conectar com a filha que ele inicialmente rejeitou.

O Estilo Visual de Danny Boyle

Danny Boyle, conhecido por seu trabalho inovador em filmes como Trainspotting e Slumdog Millionaire, traz sua habilidade visual única para Steve Jobs. O filme é marcado por uma abordagem estilística arrojada e uma utilização criativa de câmera, que mantém o ritmo da narrativa intenso e envolvente. A utilização de longos planos-sequência, interações rápidas e uma montagem que alterna entre diferentes perspectivas oferece ao espectador uma visão mais dinâmica da vida de Jobs, enquanto o diretor constrói uma atmosfera de tensão constante, refletindo a turbulência interna do personagem.

A escolha de Boyle de limitar o filme a três atos, cada um representando um evento-chave na vida de Jobs, permite uma exploração visual mais concentrada e permite que o público se concentre nos aspectos emocionais e psicológicos de cada momento, sem ser distraído por uma biografia linear.

A Trilha Sonora e a Atmosfera

A trilha sonora, composta por Daniel Pemberton, complementa perfeitamente a narrativa, adicionando uma camada emocional e profunda ao filme. A música é tensa, inquietante e, ao mesmo tempo, cheia de momentos de reflexão. Cada composição é cuidadosamente escolhida para intensificar as emoções dos personagens e para refletir a grandeza de cada evento que está sendo retratado na tela. A trilha sonora é mais do que apenas um acompanhamento sonoro; ela se torna uma extensão da própria narrativa.

Conclusão: O Legado de Steve Jobs

Steve Jobs é mais do que apenas um filme sobre a vida de um dos maiores ícones da tecnologia moderna. Ele é uma exploração das complexidades de um gênio visionário, cujas conquistas foram acompanhadas de falhas pessoais e conflitos internos. O filme não busca glorificar Jobs nem desumanizá-lo; ao contrário, ele apresenta um retrato mais realista e multifacetado de um homem que, apesar de sua visão futurista, lutava com as mesmas questões emocionais e humanas que todos enfrentam.

A atuação magistral de Michael Fassbender, combinada com a direção de Danny Boyle e o roteiro de Aaron Sorkin, resulta em um filme que não só educa sobre a história de Jobs, mas também provoca uma reflexão mais profunda sobre o preço do sucesso, os sacrifícios pessoais e as complexidades da liderança. Em última análise, Steve Jobs é uma meditação sobre o que significa ser um gênio, um líder e um ser humano, e como essas facetas se entrelaçam de maneira muitas vezes contraditória.

O filme pode não responder a todas as perguntas sobre Steve Jobs, mas, ao invés disso, nos desafia a refletir sobre o que ele representa para o mundo da tecnologia e para as futuras gerações que continuarão a ser influenciadas por sua visão, suas inovações e suas falhas.

Referências

  • Boyle, D. (Diretor). (2015). Steve Jobs. Universal Pictures.
  • Sorkin, A. (Roteirista). (2015). Steve Jobs. Universal Pictures.

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