And Breathe Normally: Um Retrato Intenso da Luta pela Sobrevivência e Conexões Humanas
O filme And Breathe Normally (2018), dirigido pela cineasta islandesa Ísold Uggadóttir, é uma obra cinematográfica que mergulha nas profundezas da complexidade humana, explorando temas como a luta pela sobrevivência, imigração, e as inesperadas conexões que surgem em tempos de crise. Com uma narrativa comovente e tocante, o filme traz à tona questões sociais relevantes, como a marginalização de imigrantes e a disparidade econômica, apresentando uma perspectiva sensível sobre a vida de pessoas que, em meio às adversidades, encontram formas de se apoiar e lutar pela própria dignidade.

Contexto e Enredo
And Breathe Normally tem como pano de fundo a Islândia, um país conhecido pela sua paisagem natural deslumbrante e pela sua tradição de bem-estar social. No entanto, o filme não faz questão de retratar uma Islândia idealizada. A história se concentra em duas personagens centrais cujas vidas se entrelaçam de maneira inesperada: uma mãe solteira islandesa chamada Íris (interpretada por Kristín Thóra Haraldsdóttir) e uma refugiada da Guiné-Bissau chamada Adja (interpretada por Babetida Sadjo). Ambas as mulheres enfrentam desafios profundos em suas vidas, em cenários distintos, mas igualmente desoladores.
Íris é uma mulher que vive em situação de pobreza e luta para cuidar do seu filho. Seu cotidiano é marcado por dificuldades financeiras e pela sobrecarga de responsabilidades. A situação de Adja, por outro lado, é marcada pela iminente deportação, uma situação desesperadora para qualquer imigrante. Ela está em processo de solicitação de asilo e precisa encontrar uma maneira de permanecer no país enquanto lida com as burocracias e os obstáculos impostos pelo sistema. O destino de ambas se cruza quando Adja é apreendida pela polícia islandesa e passa a depender da ajuda de Íris para se manter segura.
A Interligação das Vidas
O ponto alto do filme é a maneira como as vidas dessas duas mulheres se entrelaçam, mostrando que, apesar das diferenças de origem, classe social e status migratório, elas compartilham uma luta comum pela sobrevivência. O filme ilustra com sensibilidade a dificuldade de se encontrar um equilíbrio entre o que é moralmente correto e o que é necessário para sobreviver, especialmente quando os recursos são escassos e as escolhas são limitadas.
A personagem de Íris, em particular, é um reflexo da luta diária de muitas mães solteiras que, além das dificuldades financeiras, enfrentam o peso da sociedade que muitas vezes as marginaliza. Ela se vê, então, numa situação paradoxal: ao mesmo tempo que luta para proteger sua própria família, ela é chamada a tomar decisões difíceis e até arriscadas para ajudar outra mulher em situação ainda mais vulnerável. A relação que se estabelece entre Íris e Adja, portanto, é muito mais do que uma simples troca de favores, mas uma relação de empatia, compreensão e necessidade mútua.
Por outro lado, Adja é a personificação das milhares de pessoas que atravessam o mar e enfrentam o desconhecido em busca de segurança e um futuro melhor. Sua jornada, marcada pelo sofrimento e pela incerteza, é um reflexo de um sistema global que muitas vezes ignora os direitos humanos e condena indivíduos apenas por sua origem ou condição social.
Reflexões sobre a Imigração e a Marginalização
O filme não se limita a contar a história de duas mulheres em crise, mas também serve como uma crítica contundente às políticas migratórias e ao tratamento dado aos imigrantes, especialmente aos refugiados. Em muitas cenas, And Breathe Normally ilustra a frieza e a burocracia do sistema, que muitas vezes desumaniza os indivíduos em nome de regras e regulamentos impessoais. A personagem de Adja, que está na luta pela sua sobrevivência, torna-se o símbolo de uma realidade compartilhada por milhares de imigrantes que, ao chegar em países que se dizem “desenvolvidos”, encontram obstáculos imensos, desde a negação de asilo até a constante ameaça de deportação.
O filme também faz uma reflexão importante sobre o modo como as sociedades tratam os “outros”. O medo do diferente, a xenofobia, e a desigualdade social são elementos que permeiam a narrativa e nos forçam a confrontar nossas próprias crenças e atitudes. And Breathe Normally mostra como essas dinâmicas de poder e exclusão afetam diretamente as vidas das pessoas que estão em busca de uma vida digna e segura.
Direção e Performance
Ísold Uggadóttir, a diretora do filme, realiza um trabalho impressionante ao criar uma atmosfera de tensão e empatia. Sua abordagem cuidadosa ao tema da imigração e da luta por dignidade humana é visível na maneira como as personagens são desenvolvidas e como suas histórias são entrelaçadas de forma orgânica e comovente. A direção consegue, com sutileza, explorar o sofrimento e a esperança de forma que não se torna sensacionalista, mas que, ao mesmo tempo, é profundamente impactante.
A atuação de Kristín Thóra Haraldsdóttir como Íris é notável. Ela consegue transmitir a exaustão e o desespero de uma mulher que luta contra o sistema, mas também contra sua própria desesperança. Sua performance é marcada pela delicadeza e pela força de uma personagem complexa, que, mesmo diante de tantas adversidades, busca encontrar um fio de humanidade no meio da dor.
Por sua vez, Babetida Sadjo, interpretando Adja, oferece uma atuação igualmente forte e silenciosa. A sua personagem é de uma resistência silenciosa, uma mulher que, mesmo diante das maiores adversidades, nunca perde a sua dignidade. A interação entre as duas atrizes é um dos maiores trunfos do filme, já que a química entre elas transmite a profundidade e a complexidade de suas relações.
Uma Lição de Empatia e Conexões Humanas
Em última análise, And Breathe Normally é uma história de empatia e resistência. O filme nos faz refletir sobre o que significa ser humano em um mundo onde as diferenças de classe social, origem e status migratório muitas vezes determinam o destino das pessoas. Ao mostrar como essas duas mulheres, aparentemente tão diferentes, podem se unir em um momento de necessidade, o filme nos ensina que as barreiras que nos separam são, muitas vezes, construções sociais que podem ser superadas pela solidariedade e pelo cuidado mútuo.
No entanto, And Breathe Normally também nos deixa com um alerta: o sistema, muitas vezes, não favorece aqueles que mais precisam. A luta por dignidade e direitos humanos está longe de ser fácil, e, muitas vezes, os obstáculos são insuperáveis. O filme nos convida a questionar as injustiças do mundo moderno e a buscar maneiras de construir uma sociedade mais inclusiva, onde as conexões humanas não sejam limitadas pela nacionalidade, classe social ou qualquer outra divisão imposta.
Conclusão
Em um momento onde as questões sobre imigração e desigualdade social estão mais presentes do que nunca no debate público, And Breathe Normally oferece uma visão profunda e tocante sobre o impacto dessas questões nas vidas das pessoas. Com uma narrativa simples, mas poderosa, e performances excepcionais, o filme não só entretém, mas também provoca uma reflexão sobre o que significa ser humano em um mundo repleto de desigualdades.
Este filme é uma obra indispensável para quem busca compreender as realidades de um sistema global que, muitas vezes, falha em proteger aqueles que mais precisam. Com a direção sensível de Ísold Uggadóttir, And Breathe Normally é um lembrete de que, em tempos de crise, as conexões humanas podem ser a única coisa que nos mantém vivos.