A Capital da Palestina: Jerusalém em Debate
A questão da capital da Palestina é um tema profundamente complexo, que envolve não apenas disputas territoriais, mas também questões históricas, religiosas e políticas. Jerusalém, uma cidade sagrada para as três grandes religiões monoteístas – o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo – ocupa uma posição central nesse debate. A discussão sobre qual cidade é a verdadeira capital da Palestina está longe de ser uma questão simples ou resolvida, com ramificações que se estendem para as relações internacionais, o direito internacional, e os direitos humanos.
Histórico da Questão da Capital
O conflito sobre a capital da Palestina remonta ao período do Mandato Britânico na Palestina, que durou de 1917 até 1948, ano da criação do Estado de Israel. Antes da divisão de terras e da criação de Israel, Jerusalém era uma cidade multiétnica e multinacional, com uma população composta por judeus, árabes muçulmanos e cristãos. A cidade era, e ainda é, vista como um lugar sagrado e central para esses três grupos, o que torna qualquer discussão sobre sua soberania extremamente delicada.
Com a criação do Estado de Israel em 1948, e a subsequente Guerra Árabe-Israelense, Jerusalém foi dividida. A parte ocidental da cidade foi ocupada e proclamada como a capital do novo Estado de Israel, enquanto a parte oriental, incluindo a Cidade Velha, foi ocupada pela Jordânia até 1967. Durante a Guerra dos Seis Dias, em 1967, Israel capturou a parte oriental de Jerusalém e declarou a cidade como sua “capital eterna e indivisível”. No entanto, a comunidade internacional, incluindo as Nações Unidas, não reconhece essa anexação, considerando Jerusalém Oriental como parte do território palestino ocupado.
Para os palestinos, Jerusalém Oriental é vista como a capital do Estado da Palestina. Essa reivindicação é baseada em sua importância histórica e religiosa, além de sua localização no coração dos territórios palestinos que os líderes palestinos buscam estabelecer como seu território soberano. A cidade é de extrema importância para os muçulmanos, que nela possuem a Mesquita de Al-Aqsa, o terceiro local mais sagrado do Islã, além de ser o lar do Santo Sepulcro para os cristãos.
A Posicionamento Internacional sobre Jerusalém
O reconhecimento internacional de Jerusalém tem sido um ponto de disputa central. Em 1947, a ONU propôs a Resolução 181, que previa a divisão da Palestina em dois Estados – um judeu e um árabe – e colocava Jerusalém sob um regime internacional, devido à sua importância religiosa e ao grande número de comunidades presentes na cidade. No entanto, a resolução nunca foi completamente implementada devido à rejeição árabe e ao subsequente conflito.
Após a Guerra dos Seis Dias, o Conselho de Segurança das Nações Unidas emitiu a Resolução 242, que pede a retirada de Israel dos territórios ocupados, incluindo Jerusalém Oriental. Além disso, a Resolução 478, de 1980, condenou a lei israelense que declarou Jerusalém como sua capital, considerando-a ilegal e solicitando que os países retirassem suas embaixadas da cidade. A maioria dos países, incluindo os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, não reconhece Jerusalém como capital de Israel, e até recentemente mantinham suas embaixadas em Tel Aviv, com exceção dos Estados Unidos.
Em 2017, no entanto, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou que os Estados Unidos reconheciam Jerusalém como a capital de Israel e transferiram sua embaixada para a cidade. Essa ação gerou protestos internacionais, inclusive entre os aliados mais próximos dos EUA, e foi vista como uma violação do direito internacional, já que contraria as resoluções da ONU que afirmam a ocupação israelense em Jerusalém Oriental.
Por outro lado, a Autoridade Palestina, que governa a Cisjordânia, e a maioria da comunidade internacional reconhece Jerusalém Oriental como a capital do futuro Estado da Palestina, enquanto a cidade ocidental permanece sob controle israelense. Em termos de política externa, a maioria dos países ainda apoia a solução de dois Estados, na qual a cidade seria dividida entre os dois países, com Jerusalém Oriental servindo como a capital do Estado palestino.
A Solução de Dois Estados e Jerusalém
A chamada “solução de dois Estados” é vista por muitos como a única forma viável de resolver o conflito entre israelenses e palestinos. Essa solução prevê a criação de um Estado palestino independente ao lado de Israel, com fronteiras definidas e Jerusalém dividida entre os dois povos. Em uma solução de dois Estados, Jerusalém seria uma cidade internacionalmente compartilhada, servindo como a capital de ambos os países, ou seria dividida ao longo das linhas de 1967, com a parte oriental sendo a capital palestina e a parte ocidental a capital israelense.
No entanto, diversos obstáculos impedem a implementação dessa solução. A ocupação israelense de Jerusalém Oriental, a construção de assentamentos israelenses em territórios palestinos e as tensões políticas entre as facções palestinas e israelenses dificultam o progresso para a paz. Além disso, os apelos para que a cidade seja reconhecida como a capital de Israel, especialmente por parte dos Estados Unidos e outros aliados de Israel, complicam ainda mais as negociações.
Aspectos Religiosos e Culturais de Jerusalém
Jerusalém não é apenas uma cidade política, mas também um epicentro religioso para milhões de pessoas ao redor do mundo. Para os judeus, Jerusalém é o local do Muro das Lamentações, o último remanescente do Segundo Templo, que foi destruído no ano 70 d.C. Para os muçulmanos, Jerusalém é a cidade de Al-Aqsa, um dos locais mais sagrados do Islã, sendo o destino da Noite da Ascensão do Profeta Muhammad. Para os cristãos, Jerusalém é o lugar onde Jesus Cristo foi crucificado, morreu e ressuscitou, com o Santo Sepulcro representando um dos locais de maior devoção.
A pluralidade religiosa de Jerusalém torna ainda mais difícil a solução do conflito, pois a cidade é vista não apenas como um símbolo nacional, mas também como um espaço sagrado e irreplaceável. A gestão de locais sagrados, o acesso dos fiéis às suas religiões e a preservação da identidade cultural de cada grupo são questões sensíveis que precisam ser resolvidas com diplomacia e respeito mútuo.
O Futuro de Jerusalém
O futuro de Jerusalém está entre os maiores desafios no caminho para a paz entre israelenses e palestinos. A cidade continua sendo um dos principais pontos de conflito, com episódios de violência e tensão religiosa frequentemente explodindo devido a questões de controle e acesso aos locais sagrados. A comunidade internacional continua a defender a ideia de que Jerusalém deve ser uma cidade compartilhada ou uma cidade internacionalizada, onde ambas as partes possam viver e praticar suas religiões com igualdade e respeito.
Porém, qualquer solução viável para a questão de Jerusalém dependerá de um compromisso mútuo entre israelenses e palestinos, algo que tem sido difícil de alcançar ao longo das décadas. A busca por uma solução pacífica que respeite os direitos e as aspirações de ambos os povos continua sendo uma tarefa complexa, que exige não apenas negociações diplomáticas, mas também a reconciliação de profundas divisões históricas, religiosas e culturais.
Conclusão
A questão de Jerusalém como a capital da Palestina reflete a complexidade do conflito israelense-palestino e as profundas divisões entre os dois povos, bem como a importância religiosa e histórica que a cidade tem para várias comunidades ao redor do mundo. Embora Jerusalém Oriental seja amplamente vista como a capital do Estado palestino, a cidade permanece dividida e sob controle israelense, com a comunidade internacional, em grande parte, sem consenso sobre como resolver a questão.
A solução de dois Estados, com Jerusalém compartilhada ou dividida, continua sendo uma das propostas mais discutidas, mas os desafios políticos, territoriais e religiosos tornam essa visão difícil de ser implementada. O futuro de Jerusalém e da Palestina continua incerto, mas a cidade permanecerá, sem dúvida, no centro das negociações pela paz e justiça na região.