As Etapas do Desenvolvimento da Arte do Artigo
A arte do artigo, ou “mecânica da redação” como alguns chamam, passou por diversas transformações ao longo do tempo. Desde os primórdios da escrita, até a era digital contemporânea, a forma como os textos são produzidos e consumidos evoluiu drasticamente. Neste artigo, exploraremos as etapas históricas do desenvolvimento do artigo, analisando como as práticas de redação foram moldadas pelas mudanças culturais, tecnológicas e sociais. Entender essas etapas nos ajuda a perceber a dinâmica do jornalismo, da literatura e da comunicação escrita em geral.
1. Período Antigo e Clássico: Redação Baseada em Estrutura Clássica
No início, a prática de redação dos artigos seguia padrões bastante rígidos, influenciados pelos preceitos da retórica clássica. Os autores antigos, como os filósofos gregos Aristóteles e Platão, davam grande ênfase à organização lógica dos argumentos. Eles defendiam a estrutura tripartida de introdução, desenvolvimento e conclusão como o caminho mais eficaz para persuadir o público.
Nesse contexto, o artigo era concebido como um meio de instrução e reflexão. Textos como os ensaios e discursos eram caracterizados por uma linguagem formal, elaborada e enfática. A principal função do artigo era informar, educar ou persuadir com base em argumentos lógicos, evidências concretas e uma estrutura organizacional clara.
O foco aqui era a clareza e a racionalidade. Isso se refletia na escrita com uma linguagem elevada e fórmulas de argumento que buscavam convencer o leitor por meio da lógica.
2. Renascimento e a Recuperação da Propriedade Pessoal da Redação
Durante o Renascimento, especialmente na Europa, houve um movimento de redescoberta da antiguidade clássica e do humanismo. Isso trouxe uma abordagem mais pessoal e subjetiva à escrita.
Os autores passaram a dar mais valor às suas próprias opiniões e experiências, ao invés de depender exclusivamente de fontes acadêmicas ou filosóficas. Os artigos começaram a incorporar um tom mais narrativo e reflexivo, destacando o pensamento individual. A linguagem tornou-se mais fluida e menos restrita às normas formais do período clássico.
Os textos começaram a se tornar mais acessíveis ao público em geral, com uma linguagem menos erudita e mais voltada à expressão pessoal. Os artigos tornaram-se também veículos para a divulgação das ideias humanistas e da crítica social, como na filosofia renascentista de pensadores como Montaigne, que explorava a introspecção e o ensaio pessoal.
3. A Revolução da Imprensa e a Difusão Massiva de Textos
O século XVII e XVIII marcaram o surgimento da imprensa, que revolucionou a produção e disseminação de textos. O artigo passou a se tornar um meio essencial de informação e opinião pública.
Com a invenção da imprensa por Gutenberg, a produção de livros e jornais se tornou mais acessível, e o artigo ganhou um caráter mais democrático. Textos passaram a ser publicados em jornais e periódicos, tornando-se veículos de comunicação em massa. Isso permitiu uma disseminação mais rápida de ideias e o surgimento do jornalismo como profissão.
Os autores passaram a produzir artigos voltados para uma ampla gama de leitores, buscando atrair atenção e engajamento de uma audiência diversificada. O artigo tornou-se um meio de informar, entreter e mobilizar o público em torno de questões sociais, políticas e econômicas. O foco agora era atingir o público em geral, e não apenas um público especializado ou restrito.
4. Modernidade e a Era da Especialização e Do Jornalismo Investigativo
No século XIX e XX, o artigo passou por uma nova transformação, impulsionada pela revolução industrial e pelo advento do jornalismo investigativo. Nesse período, os textos começaram a se especializar em áreas específicas de conhecimento.
O artigo deixou de ser apenas uma manifestação subjetiva ou reflexiva, para se tornar um veículo de investigação e reportagem. Jornalistas como Charles Dickens, Victor Hugo e escritores investigativos influenciaram o desenvolvimento do artigo como uma forma de denúncia e esclarecimento de questões sociais, econômicas e políticas.
A linguagem passou a ser mais direta, informativa e objetiva. A busca pelo rigor e pela apuração factual se tornou predominante. O artigo de opinião, também conhecido como editorial, ganhou espaço como ferramenta de crítica e análise de acontecimentos.
O foco agora era fornecer informações detalhadas, embasadas em pesquisa e dados, e abrir espaço para a análise crítica e argumentativa.
5. Século XX e XXI: Digitalização e a Era da Informática
Com a chegada do século XX e XXI, a digitalização da informação trouxe novas mudanças. A internet e as tecnologias de comunicação impulsionaram a produção e o consumo de artigos em formatos digitais.
Os artigos tornaram-se mais rápidos e acessíveis. Redes sociais, blogs e sites de notícias passaram a ser plataformas cruciais para a publicação de artigos. O texto escrito migrou para o ambiente online, em que a brevidade e a objetividade ganharam relevância.
A facilidade de publicar conteúdos online democratizou ainda mais a produção de artigos. No entanto, ao mesmo tempo, isso gerou uma grande quantidade de informações muitas vezes superficiais e pouco aprofundadas. O artigo contemporâneo, portanto, enfrenta o desafio de conciliar qualidade e quantidade.
O público tornou-se mais exigente e propenso a buscar textos que ofereçam insights profundos e informações relevantes, seja em artigos científicos, ensaios críticos ou artigos de opinião.
Conclusão
Ao longo da história, a arte do artigo passou por transformações profundas, influenciadas pelas mudanças sociais, tecnológicas e culturais. Desde os tempos antigos, quando os artigos eram escritos sob a influência da retórica clássica, até a era digital, onde a disseminação em larga escala se tornou possível, o artigo evoluiu como uma forma essencial de comunicação. Com o advento da internet e das mídias digitais, a capacidade de produzir e consumir conteúdos cresceu exponencialmente, exigindo novas competências e abordagens no campo da escrita e do jornalismo. Entender as etapas dessa evolução nos permite melhor compreender a função e o papel dos artigos em diferentes contextos históricos e sociais.

