Análise do Filme “Isoken” (2017): A Complexidade das Relações e o Conflito de Identidade no Contexto Nigeiriano
O filme “Isoken”, dirigido por Jadesola Osiberu, apresenta uma narrativa envolvente que explora questões de identidade, expectativas culturais e escolhas pessoais no contexto da sociedade nigeriana. Lançado em 2017 e disponível para o público a partir de 15 de dezembro de 2019, este longa-metragem se destaca não apenas por sua trama romântica, mas também pela forma sensível com que aborda temas complexos relacionados ao papel da mulher, ao casamento e à pressão social, aspectos comuns na vida de muitas pessoas ao redor do mundo, especialmente na cultura africana.
Enredo
A história de Isoken, a protagonista, é centrada em uma mulher de 34 anos, que vive em Lagos, Nigéria, e se encontra em um ponto decisivo de sua vida pessoal e amorosa. O filme começa com a protagonista sendo pressionada pela mãe a se casar, algo comum em muitas famílias tradicionais nigerianas, onde as expectativas familiares e culturais prevalecem sobre os desejos pessoais. A mãe de Isoken, representada por uma figura dominadora e cheia de boas intenções, acredita que o casamento com um bom partido, como o empresário negro que tenta arranjar para sua filha, é o melhor caminho para a felicidade de sua filha.
Contudo, a vida de Isoken toma um rumo inesperado quando ela conhece Andrew, um fotógrafo branco que a atrai por sua visão artística e sensibilidade. O que parece ser um simples encontro se transforma em um dilema existencial para Isoken: de um lado, a pressão familiar para casar com um homem “adequado” à sua cultura, e do outro, o desejo de viver uma história de amor autêntica e, talvez, contrária às expectativas sociais.
Ao longo do filme, vemos Isoken enfrentando uma batalha interna sobre o que significa ser fiel a si mesma, enquanto tenta equilibrar suas próprias aspirações amorosas com o desejo de atender às demandas da sua família e da sociedade.
Personagens e Interpretação
A personagem principal, Isoken, interpretada por Dakore Akande, é o coração e a alma do filme. Akande traz uma performance intensa, capaz de transmitir a complexidade de sua personagem que é, ao mesmo tempo, moderna e tradicional, sensível e resiliente. A atriz é capaz de humanizar as questões que envolvem a protagonista, deixando o público empático com seus dilemas e escolhas.
A atuação de Joseph Benjamin, como o empresário nigeriano com quem a mãe tenta casar Isoken, é igualmente marcante. Seu personagem é o arquétipo de um bom partido – financeiramente estável, bem-sucedido e, à primeira vista, perfeito para qualquer mulher nigeriana. No entanto, ao longo da trama, é possível perceber as nuances do personagem que o fazem menos ideal do que parece inicialmente.
Outro ponto interessante do filme é a atuação de Lydia Forson, uma das amigas mais próximas de Isoken, que representa um alicerce importante para a protagonista ao longo da trama. O filme também conta com o elenco de Marc Rhys, Funke Akindele, Damilola Adegbite, Tina Mba e Patrick Doyle, que desempenham papéis que enriquecem ainda mais o drama emocional vivido por Isoken e sua luta para encontrar o equilíbrio entre tradição e desejo pessoal.
Temáticas e Questões Sociais
Uma das principais forças de “Isoken” é sua habilidade de explorar temas complexos de maneira acessível e sensível. Entre os principais tópicos abordados, destacam-se a pressão social para o casamento, especialmente dentro de culturas tradicionais que veem o casamento como um marco de sucesso, a questão racial em um país onde as divisões raciais ainda são muito marcantes, e a exploração da identidade pessoal em um mundo onde as expectativas alheias frequentemente ditam as escolhas individuais.
O filme coloca em discussão as expectativas da sociedade nigeriana com relação ao casamento, especialmente a pressão sobre as mulheres. Muitas mulheres nigerianas, especialmente aquelas que são bem-sucedidas em suas carreiras, como é o caso de Isoken, enfrentam um dilema: de um lado, devem ser bem-sucedidas profissionalmente, e de outro, são constantemente lembradas de que seu valor como mulher está atrelado à sua capacidade de encontrar um bom marido. Essa tensão entre o sucesso profissional e a realização pessoal no casamento é uma realidade vivida por muitas mulheres ao redor do mundo.
Ademais, a história aborda o racismo de uma maneira não direta, mas igualmente relevante. O relacionamento entre Isoken e Andrew traz à tona as dificuldades que ela enfrenta ao tentar se relacionar com alguém de fora de sua cultura, o que gera um debate sobre como as diferenças culturais e raciais podem ser um fator divisor nas relações, mesmo em um país como a Nigéria, onde o conceito de etnia e pertencimento é vasto e diversificado.
Estilo e Direção
A direção de Jadesola Osiberu é uma das qualidades mais notáveis do filme. Ela é capaz de criar uma atmosfera única, misturando momentos de leveza e comédia com cenas dramáticas e profundas, que tocam diretamente no coração dos espectadores. A direção de arte e a cinematografia do filme também merecem destaque, com a cidade de Lagos sendo retratada de maneira vibrante, refletindo tanto a modernidade quanto as tradições do país.
A forma como a diretora utiliza a música e a trilha sonora também é um ponto de destaque. As canções não apenas complementam a narrativa, mas também ajudam a transmitir o tom emocional do filme, criando momentos de tensão e de alívio cômico de maneira sutil e eficaz.
Impacto e Relevância Cultural
“Isoken” não é apenas um filme romântico, mas uma representação importante da sociedade nigeriana contemporânea. O filme oferece um olhar crítico sobre como as pressões familiares, culturais e sociais moldam as escolhas individuais, especialmente das mulheres. A narrativa de Isoken pode ser vista como uma metáfora para as muitas mulheres em diferentes partes do mundo que lutam para equilibrar suas ambições pessoais com as expectativas dos outros.
Além disso, o filme também oferece uma perspectiva interessante sobre a diversidade cultural dentro da Nigéria. Embora o foco principal seja o dilema de Isoken, a inclusão de Andrew, um fotógrafo branco, adiciona uma camada interessante sobre as tensões raciais e culturais que permeiam as relações pessoais.
Conclusão
“Isoken” é um filme que combina comédia, romance e crítica social de maneira eficaz. Através de uma trama envolvente e personagens bem construídos, o filme não apenas entretém, mas também provoca reflexões profundas sobre as escolhas de vida, a pressão social e a busca pela verdadeira felicidade. A direção de Jadesola Osiberu e a performance do elenco, liderado por Dakore Akande, fazem com que “Isoken” se destaque como uma obra que fala diretamente ao público, especialmente àqueles que enfrentam questões de identidade, amor e expectativas culturais em sua vida cotidiana.
O filme é uma obra que merece ser apreciada não apenas pelo seu valor cinematográfico, mas também pela sua capacidade de gerar conversas importantes sobre o lugar da mulher, a família e a sociedade na construção da vida de um indivíduo. Isoken é um convite para refletir sobre o que realmente significa fazer escolhas baseadas em nossos próprios desejos e não apenas em expectativas externas.