O termo “mard al-shak” ou “doença da dúvida” refere-se a um conceito descrito na literatura psicológica islâmica clássica, que tem paralelos com o conceito moderno de transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). Este conceito era frequentemente discutido por estudiosos muçulmanos medievais que exploravam a natureza da dúvida excessiva e da ansiedade relacionada à prática religiosa e à vida cotidiana.
História e Contexto
O conceito de “mard al-shak” foi desenvolvido dentro do contexto da teologia islâmica e da ética religiosa, particularmente durante os períodos medieval e pré-moderno do mundo islâmico. Estudiosos como Al-Ghazali (1058-1111 d.C.) e Ibn Qayyim al-Jawziyya (1292-1350 d.C.) discutiram a ansiedade excessiva e a dúvida em relação aos atos de devoção religiosa, como a oração, o jejum e a caridade.
Esses estudiosos abordaram o “mard al-shak” como uma condição que afeta a fé e a prática religiosa de um indivíduo, causando sofrimento psicológico significativo. A dúvida excessiva poderia se manifestar na forma de questionamentos constantes sobre a validade de atos religiosos realizados corretamente, o medo de cometer erros ou ofender a divindade e uma busca incessante por certeza absoluta na observância dos preceitos religiosos.
Sintomas e Manifestações
Os sintomas associados ao “mard al-shak” incluíam preocupações obsessivas com a purificação ritual, a execução correta dos rituais de oração, as intenções por trás das ações religiosas e o temor constante de não estar cumprindo as obrigações religiosas de maneira adequada. Essas preocupações poderiam levar a comportamentos compulsivos, como repetir os rituais várias vezes para garantir sua validade ou realizar atos de penitência como forma de aliviar a ansiedade.
Abordagens Tradicionais de Tratamento
Na tradição islâmica clássica, o tratamento para o “mard al-shak” frequentemente envolvia aconselhamento espiritual, orientação ética e prática religiosa mais profunda. Os estudiosos recomendavam a busca de conhecimento religioso para aumentar a compreensão e a confiança na prática religiosa correta. Além disso, enfatizava-se a importância da paciência, da reflexão espiritual e da confiança na misericórdia divina como formas de superar a dúvida e a ansiedade.
Paralelos com o Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC)
O conceito de “mard al-shak” apresenta paralelos notáveis com o transtorno obsessivo-compulsivo reconhecido pela psicologia contemporânea. O TOC é caracterizado por pensamentos intrusivos recorrentes (obsessões) que causam ansiedade significativa, bem como por comportamentos repetitivos (compulsões) realizados para aliviar essa ansiedade. No entanto, é importante notar que o TOC é uma condição médica diagnosticável, enquanto o “mard al-shak” era uma construção teológica e ética dentro da tradição islâmica medieval.
Impacto Cultural e Social
O impacto do “mard al-shak” transcende o âmbito religioso, refletindo preocupações mais amplas sobre a busca por certeza e segurança em todos os aspectos da vida humana. A ansiedade relacionada à incerteza é uma experiência universal, e as reflexões islâmicas sobre o “mard al-shak” oferecem insights sobre como diferentes culturas e tradições lidam com essas preocupações.
Conclusão
“Mard al-shak” representa uma janela para a compreensão das complexidades psicológicas e espirituais enfrentadas pelos indivíduos na busca por significado e certeza em suas práticas religiosas e cotidianas. Embora tenha origens na literatura islâmica medieval, suas reflexões sobre dúvida e ansiedade continuam a ressoar em contextos contemporâneos, oferecendo uma perspectiva valiosa sobre a interseção entre religião, psicologia e cultura.

