Kingdom: A Revolução do Terror e da Política na Coreia Feudal
A série de televisão sul-coreana Kingdom, dirigida por Kim Seong-hun e com um elenco que inclui Ju Ji-hoon, Ryu Seung-ryong, Bae Doona, Kim Sang-ho, Kim Sung-kyu, Jeon Seok-ho, Kim Hye-jun, Heo Jun-ho, Jung Suk-won, e Kim Jong-soo, fez sua estreia mundial em 2020, com um lançamento global pela plataforma de streaming. Com duas temporadas que reuniram uma base de fãs crescente, Kingdom não é apenas uma típica série de zumbis, mas uma fusão intrincada entre história, política, e o sobrenatural, ambientada na Coreia feudal.
O Enredo: Um Reino em Ruínas
O enredo de Kingdom se passa durante o período da Dinastia Joseon, no século XVI, uma era que, à primeira vista, remete a batalhas políticas e disputas de poder dentro da corte real. A história começa com uma prematura e misteriosa doença que assola a figura do rei, o monarca de uma nação que parece estar à beira de um colapso. Contudo, o que inicialmente parece ser uma doença comum toma um rumo ainda mais sinistro quando a natureza da enfermidade revela ser um tipo de peste que transforma os infectados em criaturas similares a zumbis, famintas por carne humana.
O protagonista da série, o príncipe herdeiro Lee Chang (interpretado por Ju Ji-hoon), é forçado a enfrentar não apenas essa nova ameaça sobrenatural, mas também as tramas políticas que visam tirar-lhe a coroa. Enquanto o príncipe tenta salvar seu reino e descobrir o segredo por trás da peste, ele se depara com figuras traiçoeiras dentro de sua própria corte, incluindo o ministro Cho (interpretado por Ryu Seung-ryong), que busca ampliar seu próprio poder, independentemente do destino do reino.
O conflito entre os interesses políticos da corte e a ameaça crescente do apocalipse zumbi forma o núcleo dramático da série, criando uma narrativa de tensão constante, onde a sobrevivência de Lee Chang e do povo depende de sua habilidade de navegar nesse mar de intrigas e horrores.
Elementos de Política e Sociedade
Um dos pontos mais fascinantes de Kingdom é a forma como mistura o horror com uma crítica à sociedade e à política da Coreia feudal. A dinastia Joseon foi marcada por uma hierarquia rígida, onde os nobres controlavam o destino dos camponeses e os interesses da classe dominante muitas vezes eclipsavam as necessidades do povo. Na série, essas questões sociais se manifestam nas atitudes dos membros da corte e na exploração do povo pelas autoridades.
A figura do príncipe Lee Chang é um reflexo do dilema do governante justo versus o tirano. Mesmo diante da ameaça zumbi, ele enfrenta um sistema político que não hesita em sacrificar vidas para proteger os interesses de uma elite corrupta. Essa luta pela justiça e pela sobrevivência é uma representação clara dos conflitos históricos que marcaram a política da época. Em muitas situações, a série mostra como as injustiças sociais e a sede de poder podem ser tão destrutivas quanto qualquer força sobrenatural.
Além disso, a presença da peste não é apenas uma metáfora para a peste literal que devastou várias civilizações ao longo da história, mas também um símbolo das disfunções do próprio governo. A forma como a doença se espalha e a falta de recursos para controlá-la reflete a negligência e a corrupção dentro do governo. O protagonista se vê sozinho diante dessa crise, representando a luta do bem contra um sistema corrompido.
O Elemento Sobrenatural: A Peste Zumbi
A série se destaca, principalmente, pela forma inovadora como mistura o drama histórico com o elemento de horror sobrenatural. Embora as doenças e pestes fossem uma realidade na época feudal, a abordagem de Kingdom é única, ao apresentar a doença como uma transformação grotesca, uma infestação de mortos-vivos que não só ameaça a vida das pessoas, mas também o equilíbrio do poder e das estruturas sociais.
Os zumbis de Kingdom são diferentes dos típicos vistos em outras produções de terror. Ao invés de um monstro burro e sem inteligência, os mortos-vivos da série são descritos como mais rápidos, mais resistentes e com uma habilidade notável de propagar a infecção de maneira quase incontrolável. Isso cria um cenário ainda mais desesperador, no qual o príncipe herdeiro deve lidar tanto com a ameaça dos zumbis quanto com os conflitos internos dentro da corte.
Além disso, a série explora o tema da vida após a morte de uma forma bastante sombria e filosófica. A transformação dos vivos em mortos-vivos não é apenas física, mas simbólica, refletindo a decadência de uma sociedade que perdeu seu rumo moral.
A Representação Visual e a Cinemática
A série Kingdom é também notável pelo seu estilo visual. Dirigida por Kim Seong-hun, a série usa cenários de tirar o fôlego, com paisagens coreanas deslumbrantes que capturam a beleza de um período medieval. A cinematografia e os ângulos de câmera são usados de forma inteligente para intensificar a tensão, especialmente em cenas de ação e nas interações com os zumbis. As cenas de batalha, tanto com os mortos-vivos quanto as políticas, são filmadas de maneira detalhada e realista, com uma direção de arte que transporta o espectador para o século XVI.
A maquiagem e os efeitos especiais que dão vida aos zumbis são de alta qualidade, permitindo que os monstros se destaquem de maneira sinistra e vívida. A violência, embora extrema, não é excessivamente gráfica, mas suficientemente perturbadora para evocar o medo e a tensão necessária para o tipo de história que está sendo contada.
O Elenco e a Performance dos Atores
O elenco de Kingdom faz um trabalho impressionante, com atuações que mesclam drama e suspense de forma habilidosa. Ju Ji-hoon, no papel do príncipe Lee Chang, traz uma energia de conflito interno e determinação, sendo o centro emocional da série. Sua luta para salvar o reino e sua busca por justiça, enquanto enfrenta as limitações de sua posição, é um dos maiores atrativos da trama.
Bae Doona, que interpreta a personagem Seo Bi, uma médica da aldeia que se torna uma aliada crucial de Lee Chang, se destaca pela sua atuação firme e imersiva. Sua personagem é uma das mais complexas e oferece ao público uma visão mais humanizada da situação, já que ela é uma das poucas que tenta salvar os outros, independentemente do risco pessoal.
Ryu Seung-ryong, como o Ministro Cho, é perfeito como o antagonista, representando as forças do mal dentro do governo, e sua atuação como o manipulador político que está disposto a tudo para garantir sua própria ascensão ao poder é uma das mais impactantes da série.
Recepção e Impacto Cultural
Desde seu lançamento, Kingdom teve uma recepção muito positiva, tanto na Coreia do Sul quanto no resto do mundo, e rapidamente se tornou um fenômeno de culto, especialmente entre os fãs de dramas históricos e de zumbis. A série foi amplamente elogiada por sua originalidade, roteiro envolvente e pela forma como combina diferentes gêneros, mantendo o público em suspense constante.
Além disso, a série ajudou a consolidar a popularidade dos dramas coreanos internacionalmente, já que foi um dos primeiros títulos a receber uma exibição mundial pela Netflix, dando a Kingdom uma audiência global. Sua mistura de história, política e horror serviu como uma porta de entrada para outros dramas coreanos, e muitos consideram que a série ajudou a redefinir o gênero de zumbis.
Conclusão
Kingdom é mais do que apenas um drama de zumbis, e seu sucesso é uma prova de que a narrativa complexa, personagens bem desenvolvidos e uma abordagem única ao gênero de terror podem resultar em algo muito mais impactante do que a simples soma de seus elementos. Com suas duas temporadas, a série continua a ser um marco para os dramas coreanos, elevando o padrão de qualidade e originalidade na televisão internacional. É uma obra que, além de entreter, faz uma reflexão profunda sobre poder, corrupção e a luta pela sobrevivência, temas que continuam a ressoar em qualquer época e lugar.

