As “estruturas-chave” ou “quadros-chave” das movimentações, também conhecidas como “frameworks” em inglês, são modelos conceituais, teorias ou abordagens metodológicas que ajudam a entender e analisar certos fenômenos ou processos. No contexto das movimentações sociais, esses frameworks são especialmente importantes, pois oferecem uma estrutura para examinar e compreender as dinâmicas complexas e multifacetadas que ocorrem nessas situações. Existem diversos frameworks que podem ser aplicados ao estudo das movimentações sociais, cada um com suas próprias ênfases teóricas e metodológicas.
Um dos frameworks mais conhecidos e amplamente utilizados é o modelo proposto por Charles Tilly, conhecido como “mobilização de recursos”. Segundo Tilly, as movimentações sociais são resultados da mobilização de recursos, incluindo recursos materiais, recursos humanos e recursos simbólicos. Esse modelo enfatiza a importância dos recursos disponíveis para os movimentos sociais, bem como as estratégias utilizadas para mobilizá-los e as interações entre os diferentes atores envolvidos.
Outro framework importante é o modelo de “estrutura de oportunidades políticas”, desenvolvido por Doug McAdam, John D. McCarthy e outros. Esse modelo destaca a influência do contexto político e institucional na emergência e na trajetória das movimentações sociais. De acordo com esse modelo, as oportunidades políticas, como mudanças na legislação ou na opinião pública, podem facilitar ou dificultar a mobilização e a ação coletiva.
Além desses, há o conceito de “quadro de protesto”, introduzido por Erving Goffman. Segundo Goffman, os movimentos sociais são frequentemente organizados em torno de “quadros” ou interpretações compartilhadas da realidade social. Esses quadros fornecem significados e justificativas para a ação coletiva, mobilizando apoiadores e definindo inimigos.
Outro framework relevante é o modelo de “ciclos de protesto”, proposto por Sidney Tarrow. Esse modelo descreve as movimentações sociais como processos cíclicos, nos quais períodos de mobilização intensa são seguidos por períodos de calmaria ou repressão estatal. Tarrow argumenta que esses ciclos são influenciados por uma variedade de fatores, incluindo mudanças na estrutura de oportunidades políticas e nas estratégias de mobilização dos movimentos.
Além desses frameworks, há uma variedade de abordagens teóricas e metodológicas que podem ser aplicadas ao estudo das movimentações sociais, incluindo teorias de mobilização de identidade, teorias de ação coletiva, abordagens baseadas em redes sociais e análises de framing, entre outras. Cada uma dessas abordagens oferece insights únicos sobre as dinâmicas das movimentações sociais e contribui para um entendimento mais completo desses fenômenos complexos.
“Mais Informações”

Claro, vamos explorar com mais detalhes cada um dos frameworks mencionados e expandir sobre outras abordagens teóricas e metodológicas relevantes para o estudo das movimentações sociais.
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Mobilização de Recursos (Charles Tilly):
- A mobilização de recursos é um framework que enfatiza a importância dos recursos disponíveis para os movimentos sociais. Esses recursos podem incluir dinheiro, membros ativos, apoio da comunidade, habilidades organizacionais, acesso aos meios de comunicação e legitimidade cultural. Tilly argumenta que os movimentos sociais são capazes de se mobilizar e agir coletivamente quando conseguem reunir e utilizar eficazmente esses recursos.
- Este framework também destaca as estratégias utilizadas pelos movimentos sociais para mobilizar recursos, como a formação de coalizões, a utilização de redes sociais e a articulação de demandas e reivindicações.
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Estrutura de Oportunidades Políticas (Doug McAdam, John D. McCarthy):
- A estrutura de oportunidades políticas refere-se ao contexto político e institucional no qual os movimentos sociais operam. Essa abordagem argumenta que mudanças na estrutura de oportunidades políticas, como a abertura ou fechamento de canais de participação política, influenciam a capacidade dos movimentos sociais de mobilizar e agir coletivamente.
- Além disso, esta abordagem destaca a importância das alianças entre movimentos sociais e atores políticos institucionais para alcançar objetivos comuns.
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Quadro de Protesto (Erving Goffman):
- O quadro de protesto é uma perspectiva que enfatiza a importância das interpretações compartilhadas da realidade social na mobilização e ação coletiva. Segundo Goffman, os movimentos sociais frequentemente organizam suas atividades em torno de quadros ou narrativas que fornecem significados e justificativas para a ação coletiva.
- Este framework destaca como os movimentos sociais utilizam quadros para mobilizar apoiadores, construir identidades coletivas e deslegitimar adversários.
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Ciclos de Protesto (Sidney Tarrow):
- Os ciclos de protesto são uma abordagem que descreve as movimentações sociais como processos dinâmicos e cíclicos, nos quais períodos de mobilização intensa são seguidos por períodos de calmaria ou repressão estatal. Tarrow argumenta que esses ciclos são influenciados por uma variedade de fatores, incluindo mudanças na estrutura de oportunidades políticas, inovações nas estratégias de mobilização e ações de contra-mobilização por parte das autoridades.
- Esta perspectiva destaca a importância da análise longitudinal e da consideração do contexto político e institucional para entender a evolução das movimentações sociais ao longo do tempo.
Além desses frameworks, outras abordagens teóricas e metodológicas podem oferecer insights valiosos para o estudo das movimentações sociais:
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Teorias de Mobilização de Identidade: Essas teorias enfatizam a importância da identidade social na mobilização e ação coletiva. Argumentam que os movimentos sociais muitas vezes são impulsionados por identidades compartilhadas baseadas em raça, gênero, classe social, etnia, religião ou outras categorias sociais.
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Teorias de Ação Coletiva: Essas teorias buscam entender como e por que os indivíduos se envolvem em ações coletivas, explorando fatores como incentivos seletivos, custos e benefícios da participação, normas sociais e estratégias de mobilização.
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Abordagens Baseadas em Redes Sociais: Essas abordagens analisam as redes de relacionamentos entre os indivíduos e organizações envolvidos em movimentos sociais, destacando como a estrutura dessas redes influencia a mobilização, difusão de informações e coordenação de atividades.
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Análises de Framing: Essas análises examinam como os movimentos sociais moldam e comunicam suas mensagens, identidades e objetivos por meio de quadros interpretativos específicos. Destacam como a construção de significados e narrativas pode influenciar a eficácia da mobilização e ação coletiva.
Ao combinar esses diferentes frameworks e abordagens, os pesquisadores podem desenvolver uma compreensão mais abrangente e aprofundada das dinâmicas das movimentações sociais, permitindo insights teóricos e práticos para o estudo e engajamento com esses fenômenos sociais complexos.

