“I’m Leaving Now”: A Complexidade da Identidade e das Decisões em Tempos de Migração
O documentário “I’m Leaving Now” (2019), dirigido por Lindsey Cordero e Armando Croda, oferece uma reflexão profunda sobre as complexas questões da imigração, identidade e os desafios enfrentados por aqueles que, após longos anos em outro país, se veem divididos entre o desejo de retornar à terra natal e as obrigações familiares que os prendem ao lugar onde passaram boa parte de suas vidas. A produção, com uma duração de 75 minutos e classificada com o selo TV-MA (conteúdo adequado para maiores de 17 anos), foi lançada no dia 1º de outubro de 2020, e se destaca no universo dos documentários e filmes internacionais.
O Enredo e a História Pessoal
O documentário segue a jornada emocional de um imigrante indocumentado que, após 16 anos vivendo nos Estados Unidos, toma a decisão de retornar ao México. Esse movimento, inicialmente visto como uma oportunidade de recomeço, se torna uma tarefa cheia de dilemas, ao confrontar o peso das relações familiares e as realidades da vida imigrante. A trama é uma narrativa pessoal e íntima, centrada em um homem que busca reconciliar seu passado e sua identidade com as necessidades do presente.
Após mais de uma década vivendo em uma terra estrangeira, a possibilidade de retorno ao México deveria ser uma chance para o protagonista voltar para sua família e encontrar sua origem, mas os obstáculos que surgem no caminho não são apenas externos, mas também internos, relacionados às expectativas da própria família que, inesperadamente, pede para que ele permaneça nos Estados Unidos.
A tensão entre o desejo de voltar às raízes e a pressão para ficar nos Estados Unidos, onde sua família estabeleceu uma nova vida, compõe o âmago do documentário. A decisão de retornar ao México e as dificuldades dessa escolha não são apenas geográficas, mas também emocionais, e lidam com questões de pertencimento, identidade e sacrifícios.
A Realidade da Imigração Indocumentada
Uma das maiores forças de “I’m Leaving Now” reside na maneira sensível com que aborda a experiência dos imigrantes indocumentados nos Estados Unidos. A vida de um imigrante sem documentação no país é permeada por incertezas, dificuldades econômicas, medo da deportação e a constante luta por estabilidade. O filme aborda como, mesmo após anos de convivência e adaptação à nova cultura, um imigrante ainda se vê à margem da sociedade, sem acesso a direitos fundamentais, como a segurança no trabalho e a garantia de uma vida tranquila.
No entanto, o filme também expõe a complexidade do vínculo emocional com o lugar onde se está, além da relação com a família que, muitas vezes, fica dividida entre duas culturas. Esse dilema do imigrante, que se sente tanto parte de sua terra natal quanto da nova pátria, reflete a experiência de muitos que cruzam fronteiras em busca de uma vida melhor, mas se deparam com um sentimento constante de não pertencimento.
A Decisão de Permanecer
O conflito de querer voltar ao México, mas ao mesmo tempo ser requisitado pela própria família para que fique nos Estados Unidos, expõe uma realidade comum a muitos imigrantes. Enquanto um país representa a origem, o outro, paradoxalmente, se torna o espaço de uma nova identidade, construída ao longo de anos de trabalho, adaptação e convivência. O dilema entre ir ou ficar torna-se, assim, uma questão não apenas de escolha geográfica, mas de escolha pessoal, que questiona o que significa ser parte de uma família e o que significa ser parte de uma comunidade, ou de uma nação.
O desejo de retornar à terra natal é frequentemente alimentado pela saudade, pelas memórias e pela esperança de reviver a vida que foi deixada para trás. No entanto, ao longo do documentário, a realidade de estar longe de casa por tanto tempo revela que a conexão com a terra de origem pode ter mudado irreversivelmente. O protagonista se vê preso entre dois mundos e dois sentimentos: um de nostalgia e um de responsabilidade.
O Papel da Família
Em “I’m Leaving Now”, a família desempenha um papel crucial na narrativa. Embora o imigrante tenha vivido uma vida autônoma e independente nos Estados Unidos, os laços familiares são inquebráveis. Quando sua família lhe pede para ficar, surge a pressão do afeto e da lealdade. Esse pedido revela as expectativas não apenas sobre a sua permanência no país, mas também sobre o que ele representa para sua família: um elo de estabilidade, um suporte econômico e emocional que eles temem perder.
O filme mostra como as decisões de um membro da família podem afetar todo o sistema familiar. A escolha de partir ou ficar não é uma decisão isolada; ela impacta não apenas a vida do protagonista, mas também as vidas de seus entes queridos. Em muitas famílias de imigrantes, essa dinâmica é um reflexo do sacrifício, da luta pela sobrevivência e da busca por um futuro melhor.
Imigração e Identidade
O tema da identidade, de quem somos e onde pertencemos, é um dos mais explorados ao longo do documentário. O protagonista questiona sua própria identidade, agora em risco de ser desfeita pela mudança de localização e pela pressão das circunstâncias externas. Ao longo dos 75 minutos do filme, o espectador é levado a refletir sobre o que significa ser imigrante em um país estrangeiro, onde o desejo de voltar para casa se esbarra nas questões de pertencimento e nas expectativas de quem fica para trás.
A história de “I’m Leaving Now” coloca em evidência a luta emocional e psicológica que muitos imigrantes enfrentam, pois ao buscar construir uma nova vida em um novo país, muitas vezes acabam perdendo parte de si mesmos. A tentativa de retornar para a casa e para a cultura natal é um esforço de reconciliação, mas também de resgatar uma parte da própria identidade que foi deixada para trás, muitas vezes forçadamente.
Conclusão
Em última análise, “I’m Leaving Now” é mais do que apenas um documentário sobre imigração. Ele se aprofunda nas questões complexas que envolvem a migração, as escolhas pessoais, a identidade e os laços familiares. O filme é uma reflexão sobre os custos e as recompensas da vida no exterior, sobre o dilema de estar entre dois mundos, e sobre a busca constante pela construção de um futuro melhor, enquanto se lida com o passado e as raízes que não podem ser facilmente cortadas.
A direção de Lindsey Cordero e Armando Croda é hábil em captar a humanidade e as complexidades dessa experiência. Ao contar uma história que é profundamente pessoal, mas que ao mesmo tempo representa a realidade de milhões de imigrantes, o documentário se torna uma obra universal que ressoa com qualquer pessoa que tenha enfrentado as difíceis escolhas relacionadas à migração e ao pertencimento. Em sua essência, o filme é uma poderosa meditação sobre a vida, a identidade e os sacrifícios envolvidos em buscar um futuro melhor, ao mesmo tempo em que se lida com os laços inquebrantáveis da família e da cultura.

