A expressão “Cidade das Cem Portas” faz referência a uma das cidades mais antigas e historicamente significativas do Egito, a majestosa cidade de Tebas, localizada na margem oriental do rio Nilo. Tebas, ou Uaset, como era conhecida pelos antigos egípcios, floresceu como a capital religiosa do Egito durante o período do Império Novo (c. 1550-1070 a.C.). Esta cidade, que os gregos chamavam de Tebas, foi descrita por Homero como a “Cidade das Cem Portas” em seu épico Ilíada. Tal denominação aludia à magnitude e à grandeza das suas entradas, monumentos e templos, que simbolizavam a opulência e a relevância da cidade no auge de seu poder.
Origem e Significado da Denominação “Cidade das Cem Portas”
A designação “Cidade das Cem Portas” tem suas raízes na literatura e na cultura da Grécia Antiga. O célebre poeta Homero, em sua Ilíada, referiu-se a Tebas como “a cidade das cem portas, cujos guerreiros podem marchar com suas carruagens através de cada uma”. Essa descrição poética reflete a magnitude e o esplendor da cidade, que era tão vasta e poderosa que poderia mobilizar exércitos inteiros por suas inúmeras entradas.
Embora o número cem seja provavelmente simbólico, representando uma quantidade imensa ou um número perfeito na antiguidade, a imagem criada por Homero visava capturar a imaginação dos seus contemporâneos, evocando uma cidade tão vasta e próspera que se tornara lendária.
Tebas: O Coração do Egito Antigo
Tebas ocupava uma posição central tanto geograficamente quanto culturalmente no Egito Antigo. Situada na região que hoje corresponde à moderna cidade de Luxor, Tebas era, no seu apogeu, uma metrópole vibrante e o principal centro de poder e religião no Egito. A cidade era especialmente conhecida por sua ligação com Amon-Rá, o deus supremo do panteão egípcio durante o Império Novo. Este período viu Tebas crescer em riqueza e prestígio, refletido na construção de monumentos que permanecem, até hoje, como alguns dos exemplos mais impressionantes da arquitetura do Egito Antigo.
Os Grandes Monumentos de Tebas
Entre os monumentos mais icônicos de Tebas estão os templos de Karnak e Luxor. O complexo de Karnak, que era o centro religioso mais importante da cidade, é uma vasta coleção de templos, capelas, pilares e outras edificações, construído e expandido por diversos faraós ao longo de quase dois milênios. Este complexo servia como o principal local de culto a Amon-Rá, e suas dimensões colossais refletem a devoção do Estado a este deus.
Luxor, outro templo grandioso, estava alinhado com Karnak por uma avenida de esfinges que se estendia por cerca de 2,5 quilômetros. Este templo também estava dedicado a Amon-Rá, mas tinha uma função diferente, sendo o local das celebrações do festival de Opet, uma das festividades religiosas mais importantes do Egito Antigo.
Além dos templos, Tebas era também famosa pelo Vale dos Reis e o Vale das Rainhas, onde se encontram as tumbas de muitos dos faraós e nobres do Império Novo. Estas tumbas, muitas delas ricamente decoradas com cenas do Livro dos Mortos e outros textos religiosos, foram projetadas para assegurar a imortalidade dos seus ocupantes no além.
A Glória e o Declínio de Tebas
Tebas alcançou o auge de seu poder durante os reinados de faraós como Amenhotep III, Tutancâmon, Seti I e Ramsés II. Durante esse período, a cidade era não apenas um centro político e religioso, mas também um local de intensa atividade econômica, cultural e artística. A cidade era um ponto de encontro para comerciantes de todo o mundo antigo, e suas oficinas e ateliês eram conhecidos por produzir algumas das obras de arte e arquitetura mais refinadas do Egito.
No entanto, como acontece com muitas grandes cidades da antiguidade, o destino de Tebas estava ligado ao destino do império que ela governava. No final do Império Novo, o Egito começou a sofrer com a instabilidade interna e as invasões estrangeiras. Durante o século VIII a.C., Tebas foi saqueada pelo rei assírio Assurbanípal, e, embora tenha se recuperado parcialmente, nunca mais voltou a alcançar a sua antiga glória.
Com o advento do período greco-romano, o centro de poder no Egito mudou para Alexandria, e Tebas entrou em um lento declínio, até se tornar uma cidade menor, ofuscada por sua própria história gloriosa.
Tebas na Cultura Posterior
Embora a cidade tenha caído em ruínas, o legado de Tebas perdurou através dos séculos. Durante o período greco-romano, os autores clássicos continuaram a escrever sobre a magnificência da “Cidade das Cem Portas”. As ruínas de Tebas fascinaram viajantes e exploradores desde a Antiguidade até os tempos modernos, sendo que os templos e as tumbas da cidade antiga foram redescobertos e estudados extensivamente por arqueólogos a partir do século XIX.
Na cultura egípcia contemporânea, as ruínas de Tebas, especialmente os templos de Karnak e Luxor, e o Vale dos Reis, são pontos turísticos de importância global e continuam a ser objeto de estudo e fascínio. Estas estruturas não são apenas testemunhos da grandiosidade do Egito Antigo, mas também símbolos duradouros do poder, da religião e da arte de uma das civilizações mais antigas e influentes do mundo.
Conclusão
A “Cidade das Cem Portas”, ou Tebas, permanece uma das maiores maravilhas da civilização humana. Apesar de seus monumentos estarem agora em ruínas, a memória de sua grandeza sobrevive através dos séculos, perpetuada pela literatura, pela arqueologia e pelo próprio desejo humano de compreender e preservar o passado. Tebas, com suas portas e templos que uma vez brilharam sob o sol do deserto, é um testemunho duradouro da capacidade do ser humano de criar, governar e deixar um legado que resiste ao tempo.