O nariz, com sua rica rede de vasos sanguíneos e posição exposta no rosto, é uma estrutura particularmente vulnerável a traumas e fatores ambientais que podem levar ao sangramento, tecnicamente conhecido como epistaxe. Embora geralmente benigno, o sangramento nasal pode ser motivo de preocupação, especialmente quando recorrente ou severo. Compreender as causas subjacentes do sangramento nasal é crucial para o tratamento adequado e a prevenção de complicações mais graves.
Estrutura Anatômica do Nariz e a Propensão ao Sangramento
Para entender as razões que levam ao sangramento nasal, é fundamental primeiro considerar a estrutura anatômica do nariz. O septo nasal, que divide as duas cavidades nasais, é recoberto por uma mucosa fina e altamente vascularizada, especialmente na parte anterior, onde está localizado o plexo de Kiesselbach. Esta região é uma área comum de sangramento devido à sua exposição e fragilidade.
Causas Comuns de Sangramento Nasal
O sangramento nasal pode ocorrer devido a uma variedade de fatores, que podem ser classificados em locais, sistêmicos e ambientais.
1. Fatores Locais
Os fatores locais são aqueles diretamente relacionados ao nariz e suas estruturas.
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Trauma: O trauma é uma das causas mais comuns de sangramento nasal. Pode ocorrer devido a um impacto direto no nariz, como em quedas, acidentes ou esportes de contato. Além disso, a manipulação excessiva do nariz, como coçar ou inserir objetos nas narinas, pode danificar a mucosa e causar sangramento.
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Infecções: Infecções das vias respiratórias superiores, como resfriados ou sinusites, podem causar inflamação e secura da mucosa nasal, tornando-a mais suscetível a lesões. Isso pode levar a sangramentos, especialmente se houver formação de crostas que, ao serem removidas, expõem os vasos sanguíneos.
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Corpos Estranhos: Em crianças, a inserção de objetos pequenos nas narinas é uma causa frequente de epistaxe. Estes corpos estranhos podem causar lesões na mucosa ou desencadear infecções locais que levam ao sangramento.
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Desvios do Septo Nasal: Um desvio do septo pode criar áreas de maior tensão e atrito dentro do nariz, predispondo a mucosa a lesões e sangramentos.
2. Fatores Sistêmicos
Os fatores sistêmicos referem-se a condições de saúde que afetam o corpo como um todo, mas que podem aumentar o risco de sangramento nasal.
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Hipertensão Arterial: A pressão arterial elevada é uma causa sistêmica significativa de sangramento nasal, especialmente em pessoas idosas. A pressão alta pode fragilizar os vasos sanguíneos nasais, aumentando o risco de ruptura.
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Distúrbios Hemorrágicos: Condições que afetam a coagulação do sangue, como a hemofilia ou a trombocitopenia, podem predispor a episódios de epistaxe. Nessas situações, mesmo lesões mínimas podem resultar em sangramentos significativos.
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Uso de Medicamentos: Certos medicamentos, como anticoagulantes (por exemplo, varfarina) e anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), podem aumentar o risco de sangramento ao interferir na capacidade do sangue de coagular.
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Doenças Sistêmicas: Doenças hepáticas, insuficiência renal e outras condições crônicas podem afetar os mecanismos de coagulação e predispor ao sangramento nasal.
3. Fatores Ambientais
Os fatores ambientais desempenham um papel importante, especialmente em regiões com climas extremos.
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Clima Seco: Em ambientes com baixa umidade, como durante o inverno ou em climas desérticos, a mucosa nasal pode ressecar, resultando em fissuras que sangram facilmente.
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Mudanças de Altitude: Em altitudes elevadas, a pressão atmosférica mais baixa pode causar a expansão dos vasos sanguíneos nasais, aumentando o risco de rompimento e sangramento.
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Exposição a Irritantes: A exposição prolongada a poluentes, fumaça de cigarro, produtos químicos ou até mesmo perfumes fortes pode irritar a mucosa nasal, levando a inflamação e sangramento.
Classificação e Tipos de Epistaxe
A epistaxe pode ser classificada em dois tipos principais, dependendo da localização do sangramento:
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Epistaxe Anterior: Este é o tipo mais comum, onde o sangramento ocorre na parte anterior do septo nasal, geralmente do plexo de Kiesselbach. A epistaxe anterior tende a ser mais fácil de controlar e raramente é grave.
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Epistaxe Posterior: Neste caso, o sangramento ocorre mais profundamente no nariz, em uma área onde os vasos sanguíneos são maiores e de maior calibre. A epistaxe posterior é menos comum, mas pode ser mais grave e difícil de tratar, muitas vezes necessitando de intervenção médica.
Diagnóstico e Investigação
Ao avaliar um paciente com sangramento nasal, é essencial realizar uma história clínica detalhada e um exame físico minucioso. O médico pode perguntar sobre a frequência e a duração dos sangramentos, a presença de fatores desencadeantes, e sintomas associados como dor, inchaço ou febre.
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Rinoscopia Anterior: Este exame permite visualizar o interior das cavidades nasais e identificar a fonte do sangramento. Pode ser realizado no consultório médico e é fundamental para o diagnóstico.
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Exames de Sangue: Em casos de epistaxe recorrente ou inexplicada, exames laboratoriais, como hemograma completo e testes de coagulação, podem ser necessários para investigar distúrbios sistêmicos subjacentes.
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Imagem: Em alguns casos, especialmente se houver suspeita de um tumor ou outra anormalidade estrutural, exames de imagem como tomografia computadorizada (TC) ou ressonância magnética (RM) podem ser indicados.
Tratamento da Epistaxe
O tratamento do sangramento nasal varia de acordo com a gravidade do caso e a causa subjacente.
1. Medidas de Primeiros Socorros
Para sangramentos nasais leves, medidas simples podem ser eficazes:
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Compressão Nasal: A compressão das narinas, pressionando-as contra o septo nasal por cerca de 10 a 15 minutos, é frequentemente suficiente para interromper o sangramento. O paciente deve inclinar-se levemente para frente para evitar a ingestão de sangue.
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Aplicação de Gelo: Aplicar gelo sobre o nariz pode ajudar a constrição dos vasos sanguíneos, diminuindo o fluxo sanguíneo.
2. Tratamentos Médicos
Se as medidas de primeiros socorros não forem suficientes, pode ser necessária a intervenção médica.
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Cauterização: A cauterização química ou elétrica pode ser usada para selar os vasos sanguíneos que estão sangrando. É um procedimento realizado com anestesia local e é eficaz para a maioria dos casos de epistaxe anterior.
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Tamponamento Nasal: Em casos mais graves, um tamponamento nasal pode ser necessário para interromper o sangramento. O tampão exerce pressão sobre os vasos sanguíneos e impede o fluxo de sangue. Pode ser desconfortável, mas é uma medida eficaz, especialmente em epistaxe posterior.
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Tratamento Cirúrgico: Em raras ocasiões, quando outros métodos falham, pode ser necessária uma cirurgia para ligar os vasos sanguíneos que estão causando o sangramento.

