“Killing Them Softly”: Uma Reflexão Sobre o Crime, Moralidade e Violência no Cinema Contemporâneo
O filme Killing Them Softly, dirigido por Andrew Dominik, é uma produção de 2012 que se insere de maneira eficaz no gênero de drama e crime. Com uma narrativa envolvente e personagens complexos, a obra se destaca não apenas pela sua história de crime, mas também pela reflexão sobre moralidade, violência e as consequências de ações impensadas. Baseado no romance Cogan’s Trade de George V. Higgins, o filme mistura elementos do noir clássico com uma abordagem moderna sobre o crime organizado e os códigos de conduta dentro do submundo do crime.
A Sinopse: A Trama de “Killing Them Softly”
A história de Killing Them Softly gira em torno de um crime cometido por dois pequenos criminosos, Johnny (Scoot McNairy) e Frankie (Ben Mendelsohn), que roubam uma partida de pôquer protegida pela máfia. Este jogo é um ponto de negócios essencial para o funcionamento do submundo do crime, e a ação dos dois ladrões coloca em risco não apenas o dinheiro em jogo, mas também a própria estrutura da organização mafiosa que os protege.
Como resultado, é contratado o implacável enforcer Jackie Cogan (Brad Pitt), cujo trabalho é encontrar os responsáveis pelo roubo e “resolver” a situação. Ao longo do filme, Cogan investiga o roubo, rastreando os envolvidos enquanto interage com outros personagens do mundo do crime, como o motorista da máfia, o intermediário e outros mafiosos. A narrativa é pontuada por diálogos profundos e uma construção lenta que revela as camadas de moralidade e lealdade dentro desse ambiente criminoso.
O Personagem Principal: Jackie Cogan e a Complexidade Moral
Brad Pitt desempenha o papel de Jackie Cogan, um personagem frio, calculista e pragmático, que trabalha como um tipo de “limpador” para a máfia. O personagem, embora envolvido em uma série de atos violentos, é um estudo sobre moralidade em um mundo sem leis claras. Cogan, em sua busca por justiça, é motivado não apenas pelo desejo de eliminar os criminosos, mas também pela necessidade de restaurar a ordem do sistema mafioso, que depende da confiança e do controle.
Em uma das cenas mais emblemáticas do filme, Cogan reflete sobre a natureza do crime e da violência, afirmando que “a morte é uma coisa difícil, não é como matar com um tiro. É como se fosse, como se você estivesse matando alguém suavemente.” Esse tipo de reflexão filosófica é uma característica de Killing Them Softly, onde o crime não é apenas uma ação, mas uma constante interação com a moralidade, com as escolhas feitas por aqueles que operam à margem da sociedade.
Os Temas Centrais: Violência, Política e Moralidade
O filme se distingue pela forma como aborda o tema da violência, não apenas como um elemento de ação, mas como uma reflexão sobre suas consequências e o custo humano envolvido. A violência no filme não é glorificada ou romantizada, mas mostrada de maneira crua e realista. A brutalidade das cenas de violência é uma extensão da dura realidade do mundo do crime, onde as escolhas feitas têm um preço, e onde o código moral é frequentemente flexível, dependendo da situação e dos interesses em jogo.
Além disso, o filme faz uma crítica velada à sociedade contemporânea e ao sistema econômico. Através de uma série de diálogos entre os personagens, Killing Them Softly sugere que a violência no crime organizado, e até mesmo no mundo corporativo e político, não é diferente. A ideia de que “a sociedade está falida” permeia a obra, apontando para um sistema onde o crime não é apenas algo que acontece em um submundo, mas algo que reflete a corrupção e as falhas nas estruturas de poder da sociedade em geral.
A Direção de Andrew Dominik
Andrew Dominik, conhecido por seu estilo único de direção, traz uma abordagem contemplativa para Killing Them Softly, afastando-se da ação rápida e das cenas de violência estilizadas típicas de filmes de crime. Em vez disso, ele opta por uma direção que privilegia o silêncio, a tensão e a introspecção dos personagens. As cenas são muitas vezes pontuadas por diálogos longos e cheios de subtexto, onde cada palavra tem um peso significativo.
Dominik também utiliza a estética de forma estratégica. A cinematografia, sob a direção de Greig Fraser, é fria e sombria, refletindo o tom pessimista da história. A ambientação, predominantemente em áreas urbanas decadentes, contribui para a sensação de que o mundo do filme é um espaço de desolação e corrupção.
A Influência do Elenco e da Trilha Sonora
O elenco de Killing Them Softly é outro ponto forte do filme. Além de Brad Pitt, que oferece uma performance sólida e memorável como o protagonista, o filme conta com atuações poderosas de James Gandolfini, Richard Jenkins e Ray Liotta. Cada um desses atores adiciona camadas aos seus personagens, tornando o enredo ainda mais intrincado e intrigante.
A trilha sonora de Killing Them Softly também merece destaque. Com uma seleção musical que inclui clássicos do rock e da música pop, como as canções de The Rolling Stones, a música no filme serve não apenas para acompanhar a ação, mas para refletir os sentimentos dos personagens e o clima geral de desilusão e alienação. A música é usada de forma sutil, mas eficaz, criando um contraste entre as cenas de violência e as músicas suaves, que adicionam uma camada de complexidade à narrativa.
Recepção e Legado
Embora Killing Them Softly não tenha sido um grande sucesso comercial, sua recepção crítica foi mista a positiva. Muitos críticos elogiaram a profundidade do roteiro e a performance de Brad Pitt, destacando a forma como o filme aborda questões existenciais e sociais dentro de uma narrativa de crime. No entanto, alguns espectadores podem achar o ritmo mais lento e a abordagem contemplativa um pouco difícil de digerir, especialmente para aqueles que esperam uma experiência mais convencional de ação e violência.
No entanto, ao longo do tempo, Killing Them Softly se tornou uma obra de culto, sendo apreciado por sua profundidade e pela complexidade de seus personagens. É um filme que exige reflexão e engajamento por parte do público, recompensando aqueles que se dispõem a explorar suas camadas temáticas e filosóficas.
Conclusão
“Killing Them Softly” não é apenas um filme sobre crime, mas uma exploração das forças sociais e morais que moldam o comportamento humano, especialmente em um contexto de violência e corrupção. Ao usar o crime organizado como pano de fundo, Andrew Dominik constrói uma narrativa multifacetada sobre moralidade, lealdade e as consequências de nossas escolhas. Em última análise, é um filme que não se limita a entreter, mas que provoca e desafia o espectador a refletir sobre a natureza da violência e da sociedade.
A atuação de Brad Pitt e a direção de Dominik contribuem para a construção de uma obra única no gênero, que continua a ser relevante e a suscitar debates sobre as complexidades da vida humana e do crime.