Análise do Filme “The Arbitration” (2016): A Conflituosa Luta Pela Justiça no Contexto Empresarial Nigeriano
O cinema nigeriano tem se destacado nos últimos anos, oferecendo narrativas poderosas que abordam temas universais, mas com uma perspectiva única da realidade africana. Um exemplo notável dessa crescente produção é o filme The Arbitration, lançado em 2016 e dirigido por Niyi Akinmolayan. Com uma trama tensa e cheia de reviravoltas, o filme mergulha no universo corporativo nigeriano, explorando questões de poder, abuso, sexualidade e justiça.
Contexto e Enredo
A história de The Arbitration gira em torno de uma disputa jurídica que se desenrola após a acusação de uma funcionária contra seu superior, um CEO de uma empresa nigeriana. A funcionária, interpretada por Adesua Etomi, denuncia o CEO, interpretado por O.C. Ukeje, por duas alegações graves: demissão injusta e agressão sexual. O caso se torna ainda mais complexo quando é revelado que a funcionária e o CEO haviam mantido um relacionamento íntimo, o que coloca em dúvida a veracidade das acusações e desperta uma série de questões morais e jurídicas.
Para tentar resolver o impasse, é formada uma comissão de arbitragem, composta por um painel de juízes e especialistas, que deve decidir sobre a veracidade das alegações e determinar as consequências legais para o CEO e sua empresa. A trama se desenrola no ambiente de um tribunal de arbitragem, um espaço que, embora técnico e formal, também expõe os conflitos emocionais e pessoais entre os envolvidos.
A arbitragem, nesse contexto, é usada como uma alternativa ao sistema judicial tradicional, trazendo à tona discussões sobre ética, corrupção, e a manipulação do sistema jurídico para fins pessoais e corporativos. A película oferece uma visão crítica sobre como as estruturas de poder, especialmente dentro das grandes corporações, podem ser usadas para silenciar vítimas e proteger os agressores, mesmo diante de evidências que apontam para o contrário.
Personagens e Performances
Os personagens de The Arbitration são multifacetados e carregados de nuances que vão além de suas ações superficiais. Adesua Etomi, no papel da funcionária vítima, transmite com habilidade a dor e o dilema interno de uma mulher que luta para ser ouvida em um mundo corporativo dominado por homens. Sua performance é marcada por uma constante tensão entre a fragilidade emocional e a determinação para que sua voz seja finalmente escutada.
O.C. Ukeje, por sua vez, brilha como o CEO acusado, navegando entre a confiança excessiva e a vulnerabilidade que surge à medida que as alegações contra ele ganham força. Seu personagem é um reflexo de um homem que tem tudo a perder, mas que, ao mesmo tempo, acredita estar acima das leis que governam a sociedade.
Ireti Doyle, Sola Fosudo e Somkele Iyamah, que compõem o painel de arbitragem, adicionam camadas de complexidade ao filme, representando as diferentes perspectivas que surgem ao longo da audiência. A atriz Ireti Doyle, em particular, imprime uma autoridade moral em sua atuação, criando uma figura de equilíbrio dentro do drama.
Beverly Naya, Lota Chukwu, Gregory Ojefua e Pius Fatoke desempenham papéis secundários que ajudam a dar vida ao universo corporativo e social que envolve o caso, refletindo diferentes facetas da sociedade nigeriana contemporânea.
A Cultura Empresarial e o Machismo Estrutural
Um dos maiores pontos de destaque de The Arbitration é a forma como ele expõe o machismo estrutural e as desigualdades dentro do mundo corporativo. A dinâmica de poder entre o CEO e a funcionária, que anteriormente havia sido consensual, torna-se um campo fértil para discussões sobre abuso de poder e manipulação. O filme não apenas aborda a acusação de agressão sexual, mas também a demissão injusta que ocorre após o fim do relacionamento, sugerindo uma conexão direta entre o comportamento sexual e as decisões empresariais.
O poder de uma figura como o CEO, que controla não apenas a carreira de sua funcionária, mas também a narrativa em torno de sua vida profissional e pessoal, é um reflexo do sistema patriarcal enraizado na sociedade nigeriana. No entanto, o filme também expõe as falhas da própria arbitragem, sugerindo que, apesar das boas intenções de alguns, o sistema ainda está profundamente corrompido e alinhado com os interesses daqueles que possuem o poder e os recursos.
A questão da justiça, então, se torna central em The Arbitration. A arbitragem, como um meio alternativo de resolução de disputas, tem o potencial de ser imparcial e justa, mas, na prática, muitas vezes é manipulada para atender aos interesses dos mais poderosos. O filme oferece uma crítica contundente sobre como as instituições podem ser usadas para fins egoístas, prejudicando aqueles que buscam reparação.
Reflexões Sociais e Culturais
O contexto cultural nigeriano também desempenha um papel importante na narrativa de The Arbitration. A película reflete uma sociedade onde o status social, o gênero e a classe desempenham papéis cruciais na maneira como as pessoas são tratadas. A tensão entre as normas culturais e as questões de gênero é palpável ao longo do filme, especialmente em um país onde as mulheres ainda enfrentam dificuldades para serem ouvidas em situações de abuso.
Além disso, o filme toca em questões de classe social e como o poder financeiro pode influenciar diretamente o resultado de uma disputa. O CEO, como uma figura poderosa e rica, tem a capacidade de manipular o sistema, enquanto a funcionária, que representa uma classe mais baixa, está vulnerável às forças corporativas e legais que a tratam com indiferença.
No entanto, The Arbitration também é uma história de resistência. A funcionária que decide levar o caso a tribunal, apesar das probabilidades em sua contra, simboliza a luta pela verdade e pela justiça em um sistema que favorece os poderosos. Sua decisão de denunciar um abuso, independentemente das consequências pessoais, oferece uma mensagem poderosa de coragem e determinação.
A Produção e a Direção de Niyi Akinmolayan
A direção de Niyi Akinmolayan é precisa e eficaz. Ele consegue equilibrar o drama psicológico com momentos de suspense e tensão, mantendo o público envolvido durante toda a duração do filme. A utilização de espaços fechados, como a sala de arbitragem, contribui para criar uma atmosfera de claustrofobia, onde as personagens são forçadas a confrontar suas verdades e mentiras.
A cinematografia é sofisticada e a trilha sonora, embora discreta, complementa bem o tom da narrativa, ajudando a intensificar os momentos de maior conflito. A direção de arte também é um ponto forte, com uma estética visual que reflete a opulência e a opressão coexistentes no mundo corporativo.
Conclusão
The Arbitration é um filme que não apenas oferece um olhar crítico sobre a justiça e a moralidade dentro de uma grande corporação, mas também apresenta uma visão sobre as complexas relações de poder entre homens e mulheres em uma sociedade patriarcal. O filme traz à tona questões universais sobre abuso, vingança e perdão, enquanto expõe as fragilidades do sistema de arbitragem como uma ferramenta de resolução de disputas.
Com uma direção hábil, performances convincentes e um enredo que desafia as expectativas do público, The Arbitration é uma obra importante no cinema nigeriano, que merece ser vista não apenas por quem se interessa pela cinematografia africana, mas também por aqueles que buscam refletir sobre as questões universais de poder e justiça no mundo moderno.
Ao final, The Arbitration não é apenas uma disputa legal, mas uma reflexão profunda sobre o que significa ser humano em um sistema corrompido, onde as verdades nem sempre são o que parecem ser.

